quinta-feira, 13 de abril de 2017

Teatro/CRÍTICA

"Josephine Baker - A Vênus Negra"


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Musical imperdível na Maison de France


Lionel Fischer



"A peça aborda a vida da dançarina, cantora, atriz e humorista Josephine Baker (1906-1975), norte-americana naturalizada francesa que conquistou o mundo com sua arte e talento, apesar das críticas ao seu estilo de vida rebelde e liberal. No palco, a dança selvagem, a sensualidade e o deboche. Fora dele, a luta pela igualdade racial, a defesa da miscigenação e da convivência harmônica entre os povos".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza a vida e trajetória artística de uma mulher que conquistou o mundo com seu talento e algumas atitudes admiráveis, dentre elas a de adotar 12 crianças de etnias diferentes e aliar-se à Resistência Francesa (como espiã) durante a Segunda Guerra Mundial.  

Em cartaz no Teatro Maison de France, "Josephine Baker - A Vênus Negra" tem dramaturgia assinada por Walter Daquerre, estando a direção a cargo de Otavio Muller. Aline Deluna encarna a personagem e é também responsável pala maioria das partes narradas, dividindo a cena com os músicos Dany Roland (bateria e percussão), Christiano Sauer (contrabaixo, violão e guitarra) e Jonathan Ferr (piano e escaleta) - estes últimos também têm importantes participações como atores ao longo da montagem.

Um dos aspectos que mais me fascinou no texto de Walter Daquerre é que ele teve a coragem de optar por uma estrutura narrativa que vai na contramão da chamada dramaturgia contemporânea - nada tenho contra tal dramaturgia, desde que os conteúdos propostos cheguem à plateia com um mínimo de clareza. 

Mas, no presente texto, Daguerre aposta na eficiência de uma escrita em ordem cronológica e que combina, de forma simples e natural, passagens representadas com outras em que predominam narrações. Outro ponto a destacar, além da ótima dramaturgia, diz respeito à participação decisiva dos músicos como atores, fato que não me recordo de haver presenciado em musicais exibidos no Rio de Janeiro. 

Com relação ao espetáculo, Otavio Muller impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico - tudo é simples e natural, tudo acontece às claras, o que converte o espectador em cúmplice total do que está assistindo e vivendo. Cabe também ressaltar a precisão dos tempos rítmicos e a sensibilidade com que o encenador valoriza todos os climas emocionais em jogo.  

No tocante ao elenco, Aline Deluna exibe performance maravilhosa, tanto nas passagens em que fala em seu nome como naquelas em que narra na pele de Josephine. E quando efetivamente encarna a personagem, aí o encantamento que gera é arrebatador: como se não bastasse ser linda, possuidora de raro carisma e fortíssima presença cênica, a atriz ainda dança de forma irretocável e canta esplendidamente em vários idiomas. Resumindo: estamos diante de uma verdadeira estrela, no sentido não narcísico do termo, mas em sua acepção mais justa e merecida. 

Quanto aos músicos-atores, neste último quesito todos contribuem de forma decisiva para o êxito da montagem, exibindo humor e dramaticidade com a mesma eficiência. No tocante à direção musical de Dany Roland, esta prima pela elegância e sofisticação, sempre em sintonia com o que está acontecendo na cena. E o trio de instrumentistas exibe predicados virtuosísticos só passíveis de serem testemunhados quando estamos diante de mestres.

Na equipe técnica, Paulo Cesar Medeiros exibe um dos melhores trabalhos de sua brilhante carreira - é impressionante como este profissional, abdicando de quaisquer firulas luminísticas, sublinha e enfatiza de forma admirável todos os sentimentos em causa. E o faz com simplicidade, algo que só se materializa quando o artista domina totalmente seu veículo expressivo. A mesma eficiência se faz presente nas preciosas colaborações de Marina Salomon (direção de movimento), Marcelo Marques (cenografia e figurinos), Débora Garcia (preparação vocal) e Guto Leça (visagismo).

JOSEPHINE BAKER - A VÊNUS NEGRA - Texto de Walter Daguerre. Direção de Otavio Muller. Com Aline Deluna, Danny Roland, Christiano Sauer e Jonathan Ferr. Teatro Maison de France. Quinta a sábado, 20h. Domingo, 19h.


2 comentários:

  1. Adorei.RECOMENDADÍSSIMO.Bela atuação da atriz principal e participação irretocável dos músicos. Texto e direção brilhantes. Parabéns.

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  2. Mirian amiga,

    realmente um ótimo espetáculo.

    Beijos,

    Eu

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