segunda-feira, 14 de março de 2016

Teatro/CRÍTICA

"Mulheres à beira de um ataque de nervos - O Musical"

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Montagem imperdível no Oi Casa Grande



Lionel Fischer



"No palco, a história de três mulheres com problemas amorosos se cruza e revela toda a complexidade dos relacionamentos e da vida feminina. Pepa, atriz que guarda em segredo sua gravidez, é abandonada pelo amante e se vê perdida. Candela, sua melhor amiga, se apaixona por um terrorista e decide pedir ajuda a sua confidente temendo parar na cadeia como cúmplice. Lúcia, mulher do amante de Pepa, resolve se vingar do ex-marido nos tribunais depois depois de ter sido deixada por ele. O resultado é um dia conturbado de encontros e desencontros."

Extraído do ótimo release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Mulheres à beira de um ataque de nervos - O Musical", comédia musical baseada no filme homônimo de Pedro Almodóvar, em cartaz no Teatro Oi Casa Grande. Jeffrey Lane responde pelo texto e David Yazbek pela música e letras, sendo a versão brasileira e direção assinadas por Miguel Falabella. No elenco, Marisa Orth, Stella Miranda, Juan Alba, Helga Nemeczyk, Daniel Torres, Ivan Parente, Erika Riba, Carla Vazquez, Bruna Pazinato, Clara Verdier, Giovana Zotti, Nay Fernandes, Tassia Cabanas, Arízio Magalhães, Betto Marque, Carlos Leça, Frank Tavantti, Kiko do Valle e Oscar Fabião.

Não assisti ao espetáculo na Broadway, e portanto não tenho como avaliar sua eficácia e menos ainda compará-lo com o que está em cartaz no Rio de Janeiro, após ótima temporada em São Paulo. Mas não tenho a menor dúvida de que a atual versão nada fica a dever à norte-americana, pelo simples fato de ter a chancela de Miguel Falabella. Especialista no gênero e responsável (ao lado de Charles Möeller e Claudio Botelho) pelos melhores musicais levados à cena no Brasil, Falabella valoriza ao máximo o divertido, contundente e profundamente humano texto de Jeffrey Lane, embalado pelas excelentes canções de David Yazbek. 

Tal valorização se dá não apenas em função de marcações criativas e imprevistas, assim como de irretocável precisão no que diz respeito aos tempos rítmicos, mas também, e sobretudo, pela extraordinária capacidade de Falabella de compreender que o risível e o trágico devem ser levados igualmente a sério. Em mãos inadequadas, este texto poderia virar uma lamentável comédia pastelão. No entanto, aqui se dá o oposto: estamos diante de personagens que vivem intensamente todas as suas emoções, e se deles muitas vezes rimos, não é porque façam graça, mas porque as paixões, dada a sua natureza arrebatada e não raro paroxística, costuma fugir por completo ao controle. E tudo o que foge ao controle acaba sendo um tanto engraçado - ao menos para quem observa...

Na pele da protagonista Pepa, Mariza Orth reafirma seus extraordinários dotes interpretativos. Capaz de fazer qualquer papel, seja qual for o gênero, aqui a atriz investe profundamente no drama vivido pela personagem, abstendo-se de tentar extrair comicidade quando o que importa é o sofrimento verdadeiro e visceral de Pepa. E se algumas vezes rimos do que acontece com a personagem, isto se deve às bizarras situações em que ela se vê metida, e não em uma patética tentativa da atriz de, digamos assim, "ganhar a plateia". Até por que Mariza Orth já ganhou todas as plateias (no cinema, na televisão e no teatro) desde que optou por ser atriz. Assim, só me resta agradecer o privilégio de, mais uma vez, vê-la em cena atuando e cantando esplendidamente, e desejar aos sempre caprichosos deuses do teatro que continuem abençoando sua maravilhosa trajetória artística.

Outro desempenho notável é o de Stella Miranda. Na pele da desvairada e intempestiva Lúcia, a atriz responde pelos momentos mais engraçados do espetáculo. Comediante por excelência, possuidora de belíssima voz e imenso carisma, Stella convence plenamente tanto nas canções que interpreta quanto nas passagens em que o texto predomina. Sob todos os pontos de vista, uma das performances mais brilhantes da atual temporada.

Helga Nemeczyk mostra-se inteiramente à vontade vivendo a simplória e frágil Candela, o mesmo aplicando-se a Juan Alba (que dá vida ao simpático sedutor Ivan), a Daniel Torres (que interpreta Carlos, o dominado filho de Lúcia) e Ivan Parente (narrador da história e proprietário do psicodélico táxi). Quanto aos demais, todos também exibem ótimas vozes e irrepreensíveis performances nas coreografias, contribuindo decisivamente para o incontestável êxito do espetáculo.

Com relação à equipe técnica, considero irrepreensíveis as maravilhosas contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta divertida e lúdica produção teatral - André Cortada (direção musical), Fernanda Chamma (direção de movimento e coreografias), J.C. Serroni (cenografia), Fábio Namatame (figurinos), Dicko Lorenzo (visagismo), Drika Matheus (iluminação), Rico Vilarouca e Renato Vilarouca (videografismo e projeções), e Luciana Ferraz e Otavio Juliano (vídeos de cena). Cumpre também destacar a preciosa colaboração dos músicos André Cortada (regência e teclado 3), Andrei Presser (teclado 1), Claudia Elizeu (teclado 2), Anderson Oliveira (bateria), Raphael Coelho (percussão), Deco Araújo (guitarra) e Gabriel Conti (baixo).

MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS - O MUSICAL - Texto de Jeffrey Lane. Música e letras de David Yazbek. Versão brasileira e direção de Miguel Falabella. Com Mariza Orth, Stella Miranda e grande elenco. Teatro Oi Casa Grande. Sexta, 21h. Sábado, 17h30 e 21h30. Domingo, 17h30. 



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