segunda-feira, 20 de julho de 2015

Teatro/CRÍTICA

"Carmen, de Cervantes"

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Sensual e vigoroso tributo à reinvenção



Lionel Fischer



"O enredo utiliza-se das histórias de dois grandes nomes da literatura mundial. De um lado, está uma personagem vibrante e envolvente, a cigana Carmen; de outro o consagrado escritor espanhol Miguel de Cervantes. Livres no tempo e no espaço, eles se encontram e modificam suas trajetórias. Em cena, Carmen quer se reinventar, não quer mais ser a cigana analfabeta que usa a sensualidade e a magia para conquistar e enganar os homens. Ela procura Cervantes e pede para ele reescrever sua história".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Carmen, de Cervantes", de Marcos Arzua e Fábio Espírito Santo (o texto é baseado em um conto homônimo de Arzua). Em cartaz no Teatro Sesc Tijuca, a peça tem direção assinada por Fábio Espírito Santo, estando o elenco formado por Ana Paula Bouzas (Carmen), Samir Murad (Cervantes), Ciro Sales (José e Cobrador) e Andreza Birrencourt (Rival e Catalina), que dividem o palco com o violonista Luciano Câmara.

Excetuando-se o analfabetismo, é provável que 99% das mulheres que habitam este curioso planeta em que vivemos desejassem possuir alguns dos predicados da cigana Carmen, em especial sua magia e poder de sedução. No entanto, ela os rejeita e visa transcender as circunstâncias que a aprisionam. E neste impulso reside a premissa mais interessante do texto, que é a de sugerir a possibilidade de nos reinventarmos, independentemente de nosso sucesso ou fracasso perante os outros.

Bem escrito, contendo bons personagens e uma ação que prende a atenção do espectador ao longo de toda a montagem, "Carmen de Cervantes" recebeu sensível e expressiva versão cênica de Fábio Espírito Santo, que também revela-se um ótimo diretor de atores.
Na pele de Carmen, Ana Paula Bouzas exibe excelente performance, tanto do ponto de vista vocal como corporal - neste último quesito, nenhuma novidade, posto que a atriz é também uma ótima bailarina. A mesma eficiência se faz presente na atuação de Samir Murad, ator que sempre impõe solidez e profundidade a todos os personagens que interpreta. Em papéis de menores oportunidades, mas ainda assim vitais para a trama, Andreza Bittencourt e Ciro Sales exibem atuações seguram e convincentes.

Na equipe técnica, Luiz Brasil responde por excelente direção musical, sendo irretocáveis a direção de movimento (Eliane Carvalho), a cenografia (Ronald Teixeira), a iluminação (Fábio Espírito Santo), o figurino (Bettine Silveira) e a maquiagem (Mária Adélia). Cumpre também destacar a maravilhosa performance do violonista Luciano Câmara, que em muitos momentos me fez acreditar que estava inserido em terras andaluzas.   

CARMEM DE CERVANTES - Texto de Marcos Arzua e Fábio Espírito Santo. Direção de Fábio Espírito Santo. Com Ana Paula Bouzas, Samir Murad, Andreza Bittencourt e Ciro Sales. Teatro Sesc Tijuca. Sexta a domingo, 20h. 


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