sábado, 13 de dezembro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Selfie"

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Divertida e pertinente reflexão



Lionel Fischer



"Claudio é um homem super conectado que armazena toda a sua vida em computadores, redes sociais e nuvens. Debruçado sobre um projeto de criar um sistema único para armazenamento de todos os dados de uma pessoa, vê seu sonho ir por água abaixo quando deixa cair um café em seu equipamento, que sofre uma pane e apaga tudo. Ele então torna-se um homem sem passado, já que não se lembra de nada, pois toda a sua memória era virtual. A partir daí, Claudio inicia uma saga em busca da memória perdida, recorrendo a vários personagens de sua vida para reconstituir sua história".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "Selfie", projeto idealizado por Carlos Grun, Mateus Solano e Miguel Thiré. Marcos Caruso assina a direção da montagem, em cartaz no Teatro Miguel Falabella. No elenco, Mateus Solano dá vida a Claudio, com Miguel Thiré interpretando 11 personagens - Paulista, o amigo técnico / Solange, a mãe/ Amanda, a namorada/ Álamo, amigo maconheiro/ Empresário/ Suzana Souza, apresentadora de TV/ Barman/ Mulher do bar/ Deputado/ Menino e Inocêncio, o velho.

Pessoas próximas se divertem com minha incapacidade de resolver qualquer questão tecnológica que uma criança de três anos (com sono) resolveria em segundos. Isto é um fato, sem dúvida. Mas suponho (sou um otimista desvairado) que tal inabilidade se deva menos a um QI lamentável do que à minha consciente rejeição de me integrar a um universo que cada vez mais prioriza o virtual em detrimento do humano. Aos que discordam, permito-me um exemplo. 

Muitos se orgulham de possuir milhares de amigos no Face - que admito não saber exatamente o que é. Pois bem: suponhamos que numa sexta-feira à noite esta privilegiada e tão amada criatura esteja angustiada ou simplesmente padecendo de prosaica dor de dente. Será que um desses milhares de amigos virtuais virá socorrê-la oferecendo amparo, no primeiro caso, ou um comprimido de Toragesic, no segundo?  

É claro que sei que qualquer tecnologia, desde que bem utilizada, pode oferecer enormes benefícios à humanidade. No entanto, acredito que estejamos vivendo um momento em que a virtualidade se tornou muito mais importante do que o real da vida. E esta me parece ser a questão mais relevante abordada por "Selfie".

Como expresso no parágrafo inicial, o personagem Claudio passa literalmente a não existir quando seu equipamento entra em colapso. Se tudo que lhe interessa foi deletado, se sua memória foi apagada, o que lhe restaria viver no presente? E embora o personagem, em sua busca para se reencontrar, viva situações muito engraçadas, nem por isso as mesmas deixam de conter elementos trágicos. E aqui reside o maior mérito de Daniela Ocampo: ter escrito uma peça que se vale do humor como elemento deflagrador de urgentíssimas e mais do que pertinentes reflexões. 

Com relação ao espetáculo, Marcos Caruso impõe à cena uma dinâmica cuja expressividade decorre não apenas de marcas criativas e imprevistas, mas também da maravilhosa performance dos dois intérpretes, tanto no que diz respeito à palavra articulada quanto ao universo gestual, aí incluindo-se as passagens (quase todas) em que os objetos são recriados através de esmerada mímica.

Na pele de Claudio, Mateus Solano reafirma, uma vez mais, suas fantásticas qualidades de intérprete, construindo o personagem com comovente carga de sinceridade, sem jamais partir para soluções que objetivem extrair inócuas gargalhadas da plateia. Vivendo onze personagens, Miguel Thiré evidencia notável capacidade de metamorfose, impondo a cada papel características diferenciadas e em total sintonia com as personalidades retratadas. 

Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta original e mais do que oportuna empreitada teatral - Sol Azulay (figurinos), Felipe Lourenço (iluminação), Marcos Caruso (cenografia), Lincoln Vargas (direção musical e trilha sonora) e Arlindo Teixeira (preparação corporal).

SELFIE - Texto de Daniela Ocampo. Direção de Marcos Caruso. Com Mateus Solano e Miguel Thiré. Teatro Miguel Falabella. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h. 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"As bodas de Fígaro"

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Deliciosa versão de obra-prima



Lionel Fischer




"Ambientada no castelo do conde e da condessa de Almaviva, a história se passa no dia do casamento dos criados Fígaro e Suzana. A felicidade dos noivos está ameaçada com o 'direito de pernada' ou 'o direito da primeira noite', que permitia ao senhor feudal usufruir do leito de suas criadas antes de seus maridos. Para manter Suzana longe dos assédios de seu patrão, Fígaro precisa colocar em prática uma série de artimanhas, provocando mal-entendidos, situações cômicas e revelações inesperadas".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "As bodas de Fígaro", de Beaumarchais, magistralmente transformada em ópera homônima por Mozart. A partir da peça e da ópera, o diretor Daniel Herz e o ator Leandro Castilho criaram um dos melhores musicais da atual temporada.

Em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, a montagem traz no elenco Leandro Castilho (Fígaro), Carol Garcia (Suzana), Ernani Moraes (Conde de Almaviva), Solange Badim (Condessa de Almaviva), Tiago Herz (pajem Cherubino), Claudia Ventura (governanta Marcelina), Ricardo Souzedo (Dr. Bartholo), Alexandre Dantas (Professor Basílio), Adriano Saboya (jardineiro Antonio) e Carolina Vilar (Fanchette, filha de Antonio).

Sátira deliciosamente crítica dos costumes da nobreza européia do século XVIII, a presente versão reúne um grande número de méritos, a começar pela proposta de abrasileirar as composições de Mozart, sem que isso desfigure a beleza das partituras originais - tal feito merece ser destacado com todo o entusiasmo, e o diretor musical Leandro Castilho demonstra aqui que é possível se apropriar da obra de um gênio com respeito, sem dúvida, mas sem renunciar a uma mais do que salutar irreverência.

Mas vamos aos outros méritos. A direção de Daniel Herz encontrou um tom perfeitamente adequado ao texto, impondo à cena uma dinâmica que transita pela farsa e pelo pastelão, com uma agilidade que lembra a dos vaudevilles. Sob todos os pontos de vista, aqui Daniel Herz materializa um de seus melhores trabalhos como encenador.

No tocante ao elenco, que canta maravilhosamente e executa com precisão uma série de instrumentos - piano, flauta, viola caipira, saxofone e acordeão, além de variados instrumentos de percussão - gostaria de destacar, antes de mais nada, a unidade do conjunto e a alegria que todos demonstram de estar em cena realizando um projeto em que acreditam totalmente. Isto posto, vamos a cada um.

Leandro Castilho valoriza ao máximo a esperteza de Fígaro, sendo igualmente de ótimo nível seu trabalho corporal. Carol Garcia faz uma Suzana hilariante, desleixada fisicamente e também em termos vocais nas partes faladas - mas quando canta, a atriz me parece capaz de seduzir todos os anjos. Ernani Moraes, com sua vulcânica presença, compõe de forma exemplar o lamentável sedutor e enfurecido corno. Tiago Herz convence plenamente na pele do suave e ingênuo pajem.

Com relação a Solange Badim e Claudia Ventura, sem dúvida duas das melhores atrizes de sua geração, ambas estão absolutamente impecáveis nas personagens que interpretam: a primeira, irresistível na exibição dos furores inerentes àquelas que jamais têm satisfeitas suas ânsias lúbricas; a segunda, deliciosamente divertida com suas invejas e intrigas. Ricardo Souzedo, Adriano Saboya e Carolina Vilar extraem o que é possível de papéis com menores oportunidades, com Alexandre Dantas compondo muito bem o professor Basílio e mais adiante arrancando gargalhadas interpretando um personagem (cujo nome não recordo) que padece de assombrosa gagueira.  

No complemento da ficha técnica, considero brilhantes as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta maravilhosa e mais do que oportuna empreitada teatral - Bárbara Heliodora (tradução), Leandro Castilho (adaptação), Aurélio de Simoni (iluminação), Nello Marrese (cenografia), Antonio Guedes (figurino), Guedes e Junior Leal (visagismo) e Márcia Rubin (direção de movimento).

AS BODAS DE FÍGARO - Texto de Beaumarchais. Direção de Daniel Herz. Com Leandro Castilho, Solange Badim e grande elenco. Casa de Cultura Laura Alvim. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h.




quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Prêmio Cesgranrio de Teatro 2014
Indicados do Segundo Semestre

Melhor Direção
Daniel Herz (As bodas de Fígaro)
Isabel Cavalcanti (Galápagos)
Bruce Gomlevski (O funeral)

Melhor Ator
Mario Borges (A estufa)
Cândido Damm (Vianinha conta o último combate do homem comun)
Xando Graça (Fazendo História)

Melhor Atriz
Ana Beatriz Nogueira (Uma relação pornográfica)
Andrea Beltrão (Nômades)
Susana Faíni (Silêncio)

Melhor Espetáculo
As bodas de Fígaro
Fala comigo como a chuva e me deixa ouvir
O funeral

Melhor Cenografia
Daniela Thomas (Beije minha lápide)
André Sanchez (Fala comigo...)
Rogério Falcão (Os saltimbancos Trapalhões - O Musical)

Melhor Iluminação
Maneco Quinderé (Uma relação pornográfica e A dama do mar)
Renato Machado (Fala comigo...)

Melhor Figurino 
Claudia Kopke (Chacrinha, o musical)
Kika Lopes (Ópera do malandro)
Luciana Buarque (Os saltimbancos...)

Melhor Texto Nacional Inédito
Renata Mizrahi (Galápagos e Silêncio)
Jô Bilac (Beije minha lápide)

Categoria Especial
Cia. Teatro Manual - pelo estudo do espaço cênico através da Plataforma no espetáculo Hominus Brasilis.

Escola Sesc - pelo conjunto de ações para a formação e divulgação do teatro no Rio de Janeiro.

Duda Maia - pela direção de movimento de Fala comigo...

Melhor Direção Musical
Leandro Castilho (As bodas de Fígaro)
Marcelo Alonso Neves (Agnaldo Rayol, a alma do Brasil)
Tim Rescala (O pequeno Zacarias - uma ópera irresponsável)

Melhor Ator em Musical
Marcelo Nogueira (Agnaldo Rayol...)
Léo Bahia (Chacrinha...)

Melhor Atriz em Musical
Stela Maria Rodrigues (Agnaldo Rayol...)
Solange Badim (Bodas...)
Claudia Ventura (Bodas...)

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Teatro/CRÍTICA

"Fazendo História"

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Bela reflexão sobre o ensino e o sucesso



Lionel Fischer



"Um grupo de alunos do equivalente ao nosso ensino médio é estimulado, pelo diretor da escola, a prosseguir numa preparação especial, com o objetivo de ingressarem em Oxford ou Cambridge. Um novo professor de História é contratado com esse objetivo, mas sua influência esbarra na verdadeira cumplicidade que os estudantes têm com outro mestre naquela matéria, mais velho e experiente, cujos métodos de ensino parecem excessivamente heterodoxos aos olhos da direção do estabelecimento. Cria-se a partir daí uma relação entre os dois docentes, em meio às turbulências das vidas pessoais tanto de professores quanto de alunos, que evolui para uma admiração mútua apesar das divergências metodológicas".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Fazendo História", do dramaturgo inglês Alan Bennett,
Em cartaz no Teatro Eva Herz, a montagem leva a assinatura de Gláucia Rodrigues, estando o elenco formado por Xando Graça (Hector), Mouhamed Harfouch (Irwin), Nedira Campos (Doroty) e Edmundo Lippi (diretor), equipe de professores. E os alunos André Arteche (Scripps), Renato Góes (Dakin), Hugo Kerth (Posner), Helder Agostinni (Locwood), Rafael Canedo (Timms), Yuri Ribeiro (Rudge), Ricardo Kennup (Crowther) e Guilherme Ferraz (Akthar).

Fartamente premiada tanto em Londres quanto em Nova York, "Fazendo História" evidencia, dentre seus muitos méritos, dois que me parecem essenciais: a capacidade do autor de discutir, de forma bem humorada e crítica, a metodologia de ensino - muito parecida, em sua essência, em todos os países capitalistas; e a partir deste questionamento esmiuçar, com extrema ternura e notável capacidade de observação, todos os conflitos humanos decorrentes dessa exasperante obsessão pelo sucesso, aqui centrado na possibilidade de os alunos cursarem universidades de elite.

Bem estruturado, contendo ótimos personagens e diálogos magníficos, "Fazendo História" recebeu esplêndida versão cênica da atriz Gláucia Rodrigues, em seu primeiro trabalho como diretora. Impondo à cena uma dinâmica despojada e austera, explorando com sensibilidade todos os climas emocionais em jogo, a encenadora possui o mérito suplementar de haver extraído irretocáveis atuações do numeroso elenco.

Sem exceção, todos os intérpretes valorizam ao máximo os maravilhosos personagens criados por Alan Bennett. E ainda que Xando Graça e Mouhamed Harfouch tenham um destaque maior na trama em função de interpretarem os protagonistas, nem por isso o brilho de suas performances minimiza as de seus colegas de cena. Assim, a todos parabenizo com o mesmo entusiasmo e a todos agradeço a maravilhosa noite que me proporcionaram.

Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral, sem dúvida uma das mais significativas da atual temporada - José Henrique Moreira (tradução e adaptação), José Dias (cenografia), Ney Madeira (figurinos), Rogério Wiltgen (iluminação) e Edvan Moraes (direção musical).

FAZENDO HISTÓRIA - Texto de Alan Bennett. Direção de Gláucia Rodrigues. Com Xando Graça, Mouhamed Harfouch e grande elenco. Teatro Eva Herz. Quarta a sábado, 19h.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Agnaldo Rayol - A alma do Brasil"



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Divertido e encantador tributo



Lionel Fischer



Ator de cinema e televisão, apresentador de TV, pintor e poeta, Agnaldo Rayol começou a cantar aos oito anos de idade na Rádio Nacional. Daí em diante, seu espantoso e precoce talento só fez evoluir, o que permitiu a Agnaldo construir uma das mais belas e sólidas carreiras de intérprete musical do país.

Com texto assinado por Fátima Valença, "Agnaldo Rayol - A alma do Brasil" está cumprindo temporada no Centro Cultural Correios. Roberto Bomtempo responde pela direção do espetáculo, que tem elenco formado por Marcelo Nogueira (Agnaldo Rayol), Stela Maria Rodrigues (Hebe Camargo, Angela Maria, mãe da noiva e fã), Fabrício Negri (Erasmo Carlos e Renato Corte Real) e Mona Vilardo (Wanderléa, Lana Bithencourt, noiva e fã). 

Exibindo um total de 24 canções, afora uma breve sequência de músicas da Jovem Guarda, o espetáculo propõe uma espécie de recital intimista, o que permite à plateia conhecer não apenas alguns dos momentos mais marcantes da carreira do homenageado, mas também alguns de seus principais sucessos, como "Se todos fossem iguais a você", "A praia", "Fascinação", "Serenata do adeus", "Mia Gioconda" e "Estrada do sol", dentre outros.

Neste oportuno e mais do que merecido tributo, Fátima Valença reafirma seus muitos predicados como dramaturga, dentre eles a capacidade de criar uma história que informa sem apelar para desnecessário didatismo, além de conseguir uma permanente e salutar alternância de climas emocionais.

Com relação ao espetáculo, Roberto Bomtempo impõe à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, sendo o seu principal mérito o de conseguir envolver por completo a platéia com o que ocorre no palco e fora dele - temos sempre a impressão de que não assistimos a algo, mas estamos efetivamente inseridos no charmoso e cativante evento. 

Na pele de Agnaldo Rayol, Marcelo Nogueira exibe voz maravilhosa e convence plenamente nas passagens faladas, proferindo as palavras de forma irresistivelmente charmosa e encantadora. Stela Maria Rodrigues, comediante por excelência e ótima cantora, defende todos os seus personagens com a mesma competência. Fabrício Negri também canta muito bem e tem seu melhor momento vivendo Renato Corte Real, com Mona Vilardo cantando sempre de forma esplêndida e conferindo irresistível humor à noiva.

Na equipe técnica, Flávio Graff responde por correto cenário e ótimos figurinos, sendo eficiente a iluminação de Felipe Lourenço. Glória Calvente (preparação vocal), Toni Rodrigues (direção de movimento) e Beto Caramanhos (visagismo) contribuem de forma decisiva para o êxito do presente espetáculo.

Finalmente, um destaque todo especial para a direção musical de Marcelo Alonso Neves. Afora serem lindíssimos e originais os arranjos que assina, executados com maestria por Cristina Bhering (piano e regência), Affonso Neto (bateria) e Thaís Ferreira (violoncelo), cumpre ressaltar que, ao contrário do que acontece em muitos musicais cariocas, aqui o som dos instrumentos não abafa as vozes dos intérpretes, mas com elas dialoga permanentemente.

AGNALDO RAYOL - A ALMA DO BRASIL - Texto de Fátima Valença. Direção de Roberto Bomtempo. Com Marcelo Nogueira, Stela Maria Rodrigues, Fabrício Negri e Mona Vilardo. Centro Cultural Correios. Quinta a domingo, 19h.






quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Hominus Brasilis"

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Sedutora e original montagem



Lionel Fischer



"Desde o Big Bang até hoje em dia, a peça pincela grandes momentos da humanidade e convida o espectador a se emocionar com o surgimento da vida, a extinção dos dinossauros, a expansão marítima da Europa, as grandes guerras e também eventos que marcaram a história brasileira, como a chegada dos portugueses, a escravidão, a ditadura militar e a repentina morte de Ayrton Senna".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Hominus Brasilis", em cartaz no Teatro Municipal Maria Clara Machado. Com dramaturgia, concepção e direção da Cia. de Teatro Manual, integrada por Dio Cavalcanti, Helena Marques, Matheus Lima e Patrícia Ubeda, o espetáculo conta ainda com a supervisão de cena de Julio Adrião.

Como explícito no parágrafo inicial, a montagem propõe uma jornada desde os primórdios do universo até os dias de hoje. Até aí, nada demais. No entanto, estamos diante de uma proposta sem dúvida original: toda a encenação ocorre numa plataforma de dois metros por um e, exceção feita a umas poucas palavras, a narrativa se apóia em variados sons e no trabalho corporal dos atores - não há trilha sonora e são pouquíssimas as variações de luz.

Tal desafio, ainda que salutar, poderia resultar numa catástrofe. Mas ocorre rigorosamente o inverso. Em função da imensa criatividade dos atores no que concerne à materialização de imagens e dos sons que as acompanham, da permanente alternância entre humor, poesia e dramaticidade, o resultado é absolutamente encantador, o que demonstra as infinitas possibilidades de expressão que o teatro permite. Assim, parabenizo com grande entusiasmo os integrantes da Cia de Teatro Manual e desejo longa carreira para a presente montagem.

Na equipe técnica, Gustavo Weber responde por discreta e eficiente iluminação, com Camila Nhary assinando figurinos neutros que atendem a todas as premissas do espetáculo. Quanto à identidade visual, a cargo de Thais Gallart, gostaria de comentá-la, mas não o faço por não saber exatamente o que significa.

HOMINUS BRASILIS - Dramaturgia, concepção e direção da Cia. de Teatro Manual. Supervisão de cena de Julio Adrião. Teatro Municipal Maria Clara Machado. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 20. 


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

LANÇAMENTO
Nesta terça-feira, 2 de dezembro, às 20h, no Espaço Armazém, na Fundição Progresso – logo após a apresentação de O dia em que Sam Morreu – acontece o lançamento dos livros das peças A Marca da Água e O dia em que Sam Morreu,  que contêm o texto integral além de uma sessão com várias fotos do espetáculo e as críticas mais importantes que os trabalhos receberam. Os livros podem ser adquiridos individualmente ou numa caixa contendo os dois trabalhos. Antes do lançamento, a sessão será exclusiva para convidados.
 A Marca da Água recebeu o Prêmio Shell de Teatro 2012, na categoria de Melhor  Autor (Paulo de Moraes e Maurício Arruda Mendonça), além do Fringe First Award 2013, no Festival de Edimburgo (Escócia).
 O Dia em que Sam Morreu recebeu o Prix Coup de Coeur 2014 (dado pelo Club de  la Presse d’Avignon), no Festival de Avignon (França) e o Fringe First Award 2014, no Festival de Edimburgo (Escócia), além de estar indicado ao Prêmio Cesgranrio de Teatro 2014, na categoria Melhor Autor (Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes).
 Dentro do Projeto Memória, que a companhia desenvolve desde 2002, já foram lançados os livros Para Ver com Olhos Livres (2002) - que traz a trajetória da companhia de 1987 a 2001 em fotografias e pequenos textos - eEspirais (2008) - que traz textos analíticos sobre os 20 anos da companhia, completados em 2007. Além dos livros, foram lançados também os DVDs de Da Arte de Subir em Telhados (2002), Pessoas Invisíveis(2003), Alice Através do Espelho(2004) e Inveja dos Anjos (2009); além das dramaturgias de Inveja dos Anjos(2009) e Antes da Coisa Toda Começar(2011). Sempre com o patrocínio da Petrobras.
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Teatro/CRÍTICA

"Frida Kahlo - A Deusa Tehuana"

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Sensível e corajosa montagem

Lionel Fischer




"Alguns artistas ultrapassam a popularidade adquirida com seu trabalho e tornam-se sua melhor arte. Frida Kahlo pintou sua própria face um sem número de vezes no corpo de uma obra intensamente autoreferencial. Teatralizou sua própria existência. Foi a expressão maior de luta e superação, mesmo trazendo consigo as maiores dores - físicas e existenciais. No lugar do luto, vestiu-se de cores. Ao desconstruir o 'mito Frida' e revelar sentimentos de uma mulher que carregou em si tantas dores, a peça procura falar da importância de reinventar eternamente o espaço que ocupamos no mundo. Da necessidade de refletir sobre o amor, a arte e as escolhas que fazemos na vida".

O trecho acima, extraído do release que me foi enviado, resume as premissas essenciais que deram origem a "Frida Kahlo - A Deusa Tehuana", em cartaz no Teatro Glaucio Gill. Luiz Antonio Rocha  e Rose Germano respondem pela dramaturgia, livremente inspirada no diário e na obra da pintora. Luiz Antonio Rocha também assina a direção, cabendo a Rose Germano interpretar as personagens Dolores Olmedo Patiño (1908-2002) e Frida Kahlo (1907-1954). 

Monólogo não biográfico, o texto se inicia com Dolores Olmedo falando de sua relação com Diego Rivera (1886-1957), maior pintor e muralista mexicano, com quem teve uma relação amorosa e de quem tornou-se amiga. Graças a seu poder econômico e influência social, Dolores foi a principal responsável pela preservação de grande parte do acervo de Rivera e de Frida, com quem não mantinha relações muito amistosas.

Em seguida, é Frida quem assume o protagonismo, e então a personagem fala basicamente de suas graves mazelas físicas, tabagismo, alcoolismo e de sua relação com Rivera. E o que me parece fundamental destacar, como implícito no parágrafo inicial, é a valorização que a personagem faz da vida, sua permanente luta contra tantas e diversificadas dores. Ao invés de entregar-se ao papel de vítima, Frida inventa uma outra persona, colorida e exuberante. E através de suas reflexões sobre os temas mencionados, tudo leva a crer que a plateia deixe o teatro acreditando sempre e cada vez mais na vida. 

Com relação ao espetáculo, Luiz Antonio Rocha impõe à cena uma dinâmica essencialmente corajosa. E por coragem entenda-se uma clara disposição de valorizar todos os conteúdos, sem nenhuma preocupação em estabelecer qualquer sintonia com o acelerado ritmo de nosso tempo. Um exemplo: a cena em que a atriz se despe da personagem Dolores e encarna Frida. Essa troca de identidade e de figurino é feita de forma quase que ritualística, no mais absoluto silêncio, sem nenhuma pressa, e nem por isso testemunhei algum sinal de enfado ou impaciência em qualquer espectador.

E essa não-preocupação em imprimir ritmo à montagem, no sentido tradicional do termo, é que possibilita uma visceral aproximação com todos os sentimentos e reflexões em jogo. Afora o fato, naturalmente, do encenador criar marcas muito expressivas e explorar com grande sensibilidade todas as possibilidades da bela cenografia de Eduardo Albini, composta basicamente de três cadeiras, uma longa mesa e algumas molduras. 

No tocante à performance de Rose Germano, estamos diante de uma atriz que reúne uma série de preciosos predicados, tais como forte presença cênica, grande carisma, voz poderosa, impecável trabalho corporal e notável capacidade de entrega. Sem dúvida, uma das atuações mais significativas de 2014, e que me faz desejar que o presente espetáculo cumpra longa e mais do que merecida temporada. 

No complemento da ficha técnica, o já citado Eduardo Albini também responde por impecável direção de arte e deslumbrantes figurinos, a mesma excelência presente nas contribuições de Aurélio de Simoni (iluminação), Marcio Tinoco (trilha sonora), Norberto Presta (direção de movimento) e Ton Hyll (visagismo). Cabe também destacar a ótima participação do violonista Pedro Silveira.

FRIDA KAHLO, A DEUSA TEHUANA - Dramaturgia de Luiz Antonio Rocha e Rose Germano. Direção de Luiz Antonio Rocha. Com Rose Germano. Teatro Glaucio Gill. Sábado, domingo e segunda às 20h.   








Teatro/CRÍTICA

"Carta ao Pai"

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Kafka em sóbria versão



Lionel Fischer



Um dos maiores escritores do século XX, Franz Kafka (1883-1924) deixou uma obra não muito vasta, mas ainda assim capaz de influenciar autores como Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Gabriel García Márquez, dentre muitos outros. E tal influência se deve, fundamentalmente, às suas poderosas reflexões sobre o absurdo da condição humana, expressas em narrativas impregnadas de uma atmosfera quase sempre asfixiante e que acabou ganhando a alcunha de kafkiana.

Mas Kafka também escreveu obras não-ficcionais, como "Carta ao Pai", endereçada e jamais entregue a seu progenitor, em resposta a uma pergunta que ele lhe teria feito: "Por que você tem medo de mim?". Escrito cinco anos antes da morte do escritor, o texto ganha agora uma versão cênica (Sala Multiuso do Espaço Sesc) assinada por Antonio Gilberto e protagonizada por Rodrigo Abreu.

Fosse Kafka um autor apenas mediano e certamente estaríamos diante de uma obra restrita à relação entre duas pessoas. Mas, sendo um gênio, o autor transcende o particular e empreende uma dolorosa, irônica e universal reflexão sobre relações de poder, esmiuçando com extraordinária perspicácia as inúmeras sutilezas que a compõem. 

Como toda obra literária transposta para o palco, aqui corria-se o risco de minimizá-la. Mas não é o que acontece. Em parte pela sóbria dinâmica cênica criada por Antonio Gilberto, que sabiamente renuncia a inócuas mirabolâncias formais e prioriza a palavra. E também graças à sua atuação junto ao intérprete.

Rodrigo Abreu encontrou uma chave interpretativa muito interessante, mesclando absoluta clareza expositiva com controladas doses de emoção, o que permite à plateia apreender todos os conteúdos propostos pelo autor e ao mesmo tempo se envolver emotivamente com a narrativa.

Com relação à equipe técnica, Modesto Carone responde por impecável tradução, o mesmo aplicando-se às contribuições de Rose Gonçalves (preparação vocal), Joana Ribeiro (preparação corporal), Mariana Bley (vídeo/projeções), Tomás Ribas (iluminação) e Marcos Ribas de Faria (trilha sonora). Quanto à direção de arte de Rui Cortez, o espaço da representação está em perfeita sintonia com o contexto, mas o figurino me pareceu visualmente pouco atraente e sobretudo inadequado.

CARTA AO PAI - Texto de Franz Kafka. Direção de Antonio Gilberto. Com Rodrigo Abreu. Sala Multiuso do Espaço Sesc. Sexta e sábado, 19h. Domingo, 18h.




terça-feira, 18 de novembro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Não vamos pagar!"

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Humor farsesco minimiza comédia




Lionel Fischer



"Antônia e Margarida são duas donas de casa que estão tendo dificuldade para pagar as contas em dia. Antônia acaba de perder o emprego, e seu marido, João, trabalha em uma fábrica ameaçada de ser fechada. Em protesto pelo aumento dos preços, um grupo de mulheres (dentre elas Antônia) decide invadir e saquear um supermercado. Informado do episódio, mas sem saber que Antônia estivera envolvida, João afirma que prefere morrer de fome a fazer alguma coisa ilegal, já que não admite abrir mão de seus princípios éticos". 

Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "Não vamos pagar!", de autoria de Dario Fo e de sua mulher, Franca Rame, falecida em 2013. Inez Viana assina a direção do espetáculo (Teatro II do CCBB), estando o elenco formado por Virginia Cavendish (Antônia), Marcelo Valle (João), Luana Martau (Margarida), Fabrício Belzoff (Luís, marido de Margarida) e Zéu Britto (sargento, capitão e pai).

Ator, palhaço, diretor e dramaturgo, Dario Fo escreveu mais de 40 peças, em sua maioria exibidas para grandes plateias e quase sempre objetivando satirizar múltiplas instituições, em especial a Igreja. Mas aqui o autor e Franca Rame investem de forma vigorosa e altamente irônica contra o sistema capitalista, que sempre privilegia os detentores do poder em detrimento da classe trabalhadora. 

Se os operários não estão conseguindo adquirir os produtos de que necessitam para viver, por que não poderiam tomá-los à força?, sugerem os autores. E é exatamente isto que as mulheres fazem, ainda que tenham que arcar com as consequências. Mas estas acabam sendo minimizadas em face da incompetência e corrupção inerentes ao órgãos repressores, aqui tratados de forma impiedosamente crítica.

Isto posto, imaginei que a diretora Inez Viana imporia à cena uma dinâmica que, sem menosprezar o fato de que o texto é uma comédia, nem por isso a tornaria tão farsesca, apelando para soluções sem dúvida muito engraçadas, mas que, em minha opinião, diminuem a contundência crítica do texto. Ainda assim, cabe ressaltar que, na noite em que assisti o espetáculo, a plateia se envolveu completamente com o mesmo, e ao final aplaudiu entusiasticamente o que acabara de assistir.

Com relação ao elenco, todos os intérpretes embarcam totalmente na linha proposta pela direção, articulando o texto em velocidade quase sempre supersônica e num tom de voz em geral altíssimo, o que inviabiliza maiores sutilezas interpretativas e alternâncias de clima. Mas como tais premissas me parece que não foram priorizadas, é forçoso admitir que todos se saem muito bem, já que o elenco é constituído por profissionais exemplares.

Na equipe técnica, José Almino responde por excelente tradução, sendo corretas as contribuições de Renato Machado (iluminação), Ricco Vianna (direção musical), Juli Videla (figurinos) e Osmar Salomão (cenografia).

NÃO VAMOS PAGAR! - Texto de Dario Fo e Franca Rame. Direção de Inez Viana. Com Virginia Cavendish, Marcelo Valle, Luana Martau, Fabrício Belzoff e Zéu Britto. Teatro II do CCBB. Quinta a segunda, 19h30.      

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"O pequeno Zacarias - uma ópera irresponsável"

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Texto excessivo ganha ótima montagem


Lionel Fischer



""Num pequeno reino, nasce, filho de uma mulher pobre, Zacarias, anão corcunda, que seria um fardo incapaz de sobreviver. Ocorre que o pequeno recebe uma dádiva da Senhorita Rosaverde, que é, na verdade, a Fada Rosabela. Ela precisa se manter incógnita e reclusa desde que o príncipe decretou que toda a população deveria guiar seu comportamento pelos princípios do Iluminismo, e as fadas deverias ser banidas do reino. A dádiva de Rosabela transforma o pequeno monstrengo numa celebridade instantânea, cultuada pela sociedade e pela academia. Mas, inexplicavelmente, alguns personagens ficam imunes ao feitiço, continuando a vê-lo como é, e passam a investigar o porquê de todos celebrarem aquele grotesco anão".

O trecho acima, extraído do ótimo release que me foi enviado pelos assessores de imprensa João Pontes e Stella Stephany, resume o enredo de "O pequeno Zacarias - uma ópera irresponsável", ópera cômica com música de Tim Rescala e texto e letras de José Mauro Brant. Adaptação do conto de fadas homônimo para adultos de E.T.A. Hoffmann (1776-1822), o espetáculo tem direção assinada por José Mauro Brant e Sueli Guerra, estando o elenco formado por José Mauro Brant, Soraya Ravenle, Janaína Azevedo, Chiara Santoro, Sandro Christopher, Wladimir Pinheiro, Rodrigo Cirne e Marcello Sader.

Como implícito no parágrafo inicial, estamos diante de um enredo que, a exemplo de tantos outros escritos por Hoffmann, evidencia a extraordinária imaginação do gênio alemão. E no presente caso, como muito bem explicitado no release, trata-se de "...um conto de fadas que, centrado em uma história de amor narrada com humor e ironia, nem por isso deixa de exibir uma divertida e refinada sátira social e política da Prússia do século XIX".

No entanto, apesar de todas as maravilhosas premissas que lhe deram origem, o texto de Brant é por demais extenso e um tanto confuso, dificultando sua compreensão por aqueles que não conhecem o original. Um exemplo: após uma excelente cena inicial, quando tomamos conhecimento do fato que irá impulsionar a trama, Zacarias só reaparece (ou é mencionado) quase uma hora depois, após longas passagens envolvendo a Fada e a Academia.  E no segundo ato, como a confirmar o que acaba de ser expresso, é dito algumas vezes que "a trama precisa avançar". 

Assim, acredito que, se no total, o espetáculo não durasse três horas (incluindo o intervalo), o público certamente haveria de se envolver bem mais com esta oportuna empreitada teatral, posto que a mesma não deixa de exibir incontestáveis méritos, a começar pela música original e direção musical de Tim Rescala. 

Um dos melhores, senão o melhor, compositor de obras para o teatro deste país, Rescala criou canções belíssimas que, aliadas a arranjos impecáveis, contribuem de forma decisiva para valorizar as (em geral) ótimas letras de Brant. Cabe também destacar as preciosas colaborações dos músicos Marcelo Jardim (regente), Ana de Oliveira (1º violino), Nichola Viggiano, (2º violino), Dhyan Toffolo (viola), Marcus Ribeiro (violoncelo), Batista Jr. (clarinete), Alessandro Jeremias (trompa) e Cosme Silveira (fagote).

Com relação ao espetáculo, Brant e Sueli Guerra impõem à cena uma dinâmica em total sintonia com a magia inerente ao contexto, cabendo salientar as ótimas coreografias de Sueli Guerra. E a ambos também deve ser creditada uma significativa parcela no que concerne às impecáveis performances exibidas pelo elenco, que se divide em muitos personagens e canta de forma esplêndida - neste quesito, torna-se imperioso destacar as contribuições de Agnes Moço e Janaína Azevedo na preparação vocal. Igualmente deslumbrantes a cenografia de Miguel Pinto Guimarães, os figurinos de Carol Lobato, os vídeos de Ricardo e Renato Villarouca, o visagismo de Mona Magalhães e a iluminação de Paulo Cesar Medeiros.

O PEQUENO ZACARIAS - UMA ÓPERA IRRESPONSÁVEL - Texto e letras de José Mauro Brant. Música original e direção musical de Tim Rescala. Direção de Brant e Sueli Guerra. Com José Mauro Brant, Soraya Ravenle, Janaína Azevedo, Chiara Santoro, Sandro Christopher, Wladimir Pinheiro, Rodrigo Cirne e Marcello Sader. Teatro Sesc Ginástico. Sexta a domingo às 19h (matinês às 16h nos dias 06, 13 e 20 de dezembro).

     


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Lapinha"

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Belo e oportuno musical



Lionel Fischer



"Filha de uma negra liberta e mais conhecida como Lapinha, Joaquina Maria Conceição da Lapa foi uma cantora lírica e atriz dramática de grande sucesso no final do século XVIII e início do século XIX. Graças à sua bela voz e enorme carisma, Lapinha foi a primeira cantora negra a se destacar na arte cênica brasileira e internacional - recebeu autorização da Rainha D. Maria e do Príncipe Regente para apresentar-se em Portugal, onde morou durante 14 anos".

O trecho acima, extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, resume as principais informações sobre a protagonista do presente musical, que exibe praticamente toda a trajetória artística desta personalidade tão singular e ao mesmo tempo tão pouco conhecida.

Com texto assinado por João Batista, "Lapinha" (Teatro Clara Nunes) chega à cena com direção de Edio Nunes e Vilma Melo, estando o elenco formado por Isabel Fillardis, Zezeh Barbosa, Helga Nemeczyk, Ivan Vellame, Naná Nascimento e Ruben Gabira.

Em termos de estrutura narrativa, o texto mescla o presente (um grupo tenta decifrar o mistério de uma tela pintada de negro, tendo a auxiliá-lo um funcionário do museu) e o passado (a trajetória da cantora desde muito jovem). E entre idas e vindas, o referido mistério acaba sendo elucidado, pois fica-se sabendo que, em algumas ocasiões, a cantora maquiou de branco seu rosto, braços e mãos, única forma de ser aceita pela sociedade hipócrita e preconceituosa da época - que, diga-se de passagem, continua hipócrita e preconceituosa nos dias de hoje.

Mas o texto não se resume, evidentemente, à elucidação de um mistério. Ele nos mostra, de forma contundente e poética, a determinação de uma mulher que, dada a sua beleza, poderia ter se tornado mera cortesã. No entanto, e mesmo que eventualmente tenha feito algumas concessões para dar prosseguimento à sua carreira - fato sempre contestado por sua mãe -, o que importa ressaltar é que acabou se impondo como uma grande artista. E é óbvio que a rainha e o regente sabiam que ela era negra, assim como o público português, que a acolheu sem reservas. 

Bem escrito, contendo bons personagens e uma trama que prende a atenção da plateia ao longo de todo o espetáculo, o texto de João Batista recebeu excelente versão cênica de Edio Nunes e Vilma Melo. Valendo-se de marcas diversificadas e expressivas, e impondo à montagem uma atmosfera que ora prioriza o drama, ora o humor e muitas vezes sugere um Conto de Fadas, os encenadores exibem o mérito suplementar de haverem extraído ótimas atuações do elenco.

Na pele de Lapinha, Isabel Fillardis valoriza em igual medida tanto as passagens mais dramáticas quanto aquelas em que o humor predomina, além de cantar de forma afinada e sempre expressiva. A mesma eficiência se faz presente na performance de Zezeh Barbosa, que impõe à mãe da protagonista doses equivalentes e justas de ternura e retidão moral.

Dividindo-se entre personagens de época e atuais, Ruben Gabira, Naná Nascimento, Ivan Vellame e Helga Nemeczyk exibem ótimas interpretações e cantam de forma esplêndida as belíssimas canções compostas por Wladimir Pinheiro, também responsável por irretocáveis letras, arranjos e direção musical - e aqui torna-se imperioso ressaltar a maestria do conjunto formado por Felipe Tauil, Gabriel Gravina, Isabelle Albuquerque, Luiz Felipe Ferreira e Whatson Cardozo.   

Na equipe técnica, Aurélio de Simoni responde por uma iluminação primorosa, certamente a maior responsável pela já mencionada atmosfera de Conto de Fadas que a montagem exibe em alguns momentos. Um trabalho que reitera, uma vez mais, que Aurélio de Simoni não é apenas um profissional exemplar: Aurélio é um poeta. Cabe também destacar os irrepreensíveis cenário e figurinos da Espetacular! Produções e Artes (Ney Madeira, Dani Vidal e Pati Faebo), assim como as preciosas colaborações de Mona Magalhães (visagismo) e Ester Elias e Marcelo Sader (preparação vocal).

LAPINHA - Texto de João Batista. Direção de Edio Nunes e Vilma Melo. Com Isabel Fillardis, Zezeh Barbosa, Helga Nemeczy, Ivan Vellame, Naná Nascimento e Ruben Gabira. Teatro Clara Nunes. Quarta, 21h. Quinta e sexta, 18h30. 









quarta-feira, 12 de novembro de 2014


Os 10 melhores poemas de Fernando Pessoa


OS 10 MELHORES POEMAS DE FERNANDO PESSOA


Pedimos aos leitores e colaboradores — escritores, jornalistas,  professores — que apontassem os poemas mais significativos de Fernando Pessoa. Escritor e poeta, Fernando Pessoa é considerado, ao lado de Luís de Camões, o maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores da literatura universal. O crítico literário Harold Bloom afirmou que a obra de Fernando Pessoa é o legado da língua portuguesa ao mundo.
Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, em junho de 1888, e morreu em novembro de 1935, na mesma cidade, aos 47 anos, em consequência de uma cirrose hepática. Sua última frase foi escrita na cama do hospital, em inglês, com a data de 29 de Novembro de 1935: ‘I know not what tomorrow will bring’ (Não sei o que o amanhã trará).
Seus poemas mais conhecidos foram assinados pelos heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, além de um semi-heterônimo, Bernardo Soares, que seria o próprio Pessoa, um ajudante de guarda-livros da cidade de Lisboa e autor do “Livro do Desassossego”, uma das obras fundadoras da ficção portuguesa no século 20. Além de exímio poeta, Fernando Pessoa foi um grande criador de personagens. Mais do que meros pseudônimos, seus heterônimos foram personagens completos, com biografias próprias e estilos literários díspares. Álvaro de Campos, por exemplo, era um engenheiro português com educação inglesa e com forte influência do simbolismo e futurismo. Ricardo Reis era um médico defensor da monarquia e com grande interesse pela cultura latina. Alberto Caeiro, embora com pouca educação formal e uma posição anti-intelectualista (cursou apenas o primário), é considerado um mestre. Com uma linguagem direta e com a naturalidade do discurso oral, é o mais profícuo entre os heterônimos. São seus “O Guardador de Rebanhos”, “O Pastor Amoroso” e os “Poemas Inconjuntos”. Em virtude do tamanho, alguns poemas tiveram apenas trechos publicados. Eis a lista baseada no número de citações obtidas.

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.


Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
[sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


O guardador de rebanhos

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Ode marítima
Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos.
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.
Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.
Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.
Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos
Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.
Todo o atracar, todo o largar de navio,
É — sinto-o em mim como o meu sangue —
Inconscientemente simbólico, terrivelmente
Ameaçador de significações metafísicas
Que perturbam em mim quem eu fui…
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.

Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Presságio
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.

Todas as cartas de amor…
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

O cego e a guitarra
O ruído vário da rua
Passa alto por mim que sigo.
Vejo: cada coisa é sua
Oiço: cada som é consigo.
Sou como a praia a que invade
Um mar que torna a descer.
Ah, nisto tudo a verdade
É só eu ter que morrer.
Depois de eu cessar, o ruído.
Não, não ajusto nada
Ao meu conceito perdido
Como uma flor na estrada.
Cheguei à janela
Porque ouvi cantar.
É um cego e a guitarra
Que estão a chorar.
Ambos fazem pena,
São uma coisa só
Que anda pelo mundo
A fazer ter dó.
Eu também sou um cego
Cantando na estrada,
A estrada é maior
E não peço nada.
Ilustração: Rui Pimentel

OS 10 TEATROS MAIS BONITOS DO MUNDO

1. Gran Teatre del Liceu, Gran Teatre del Liceu, Barcelona
Em contraste com outras cidades europeias, onde a monarquia carregava a responsabilidade de construir e mantes grandiosas casas de óperas, o Liceu foi fundado por construtores privados, que formavam a Sociedade do Grande Teatro do Liceu (Societat del Gran Teatre del Liceu), organizados do mesmo jeito das tradicionais companhias, ou sociedades. Vemos esse reflexo na arquitetura da construção, por exemplo, o camarote real.
2. La Scala, de MilãoLa Scala, de Milão
Teatro alla Scala (ou La Scala), em Milão, Itália, é  das mais famosas casas de ópera do mundo. O Teatro alla Scala foi construído por determinação da imperatriz Maria Teresa da Áustria, para substituir o Teatro Regio Ducale, destruído por um incêndio em 1776, devendo seu nome à igreja de Santa Maria alla Scala que antes se erguia no . Obra do arquiteto neoclássico Giuseppe Piermarini, foi inaugurado em 3 de Agosto de 1778 com a de Antonio Salieri, L’Europa riconosciuta, com libreto de Mattia Verazi.
3. Sydney  , SydneySydney Opera House, de Sydney
A construção, projetada por Jørn Utzon, começou em 1959 e está localizada sobre a Baía de Sydney. Apesar do arquiteto ter abandonado o projeto em 1966, foi inaugurada em 1973.
Quando o edifício da Ópera de Sydney ficou concluído em 1973, constituiu  marca geográfica, na verdadeira acepção da palavra, que colocou todo o continente australiano no mapa mundial. A Ópera de Sydney tem cerca de 1000 divisões, incluindo cinco teatros, cinco estúdios de ensaio, dois auditórios, quatro restaurantes, seis bares e numerosas lojas de recordações.
4. Teatro Colón, em Buenos AiresTeatro Colón, em Buenos Aires
Na metade da década de 1850, com a florescente turnês das companhias operísticas mundiais, tornou-se óbvio a necessidade de um novo teatro. Em 1854, 53 diferentes óperas foram apresentadas na cidade. O primeiro Teatro, estabelecido na Praça de Maio, foi inaugurado em 27 de abril de 1857, após um ano de construção, com a ópera La  do italiano Giuseppe Verdi, apenas quatro anos após a première italiana da obra. A produção estrelou Sofia Vera Lorini como Violetta e Enrico Tamberlik como Alfredo. O teatro foi desenhado por Charles Pellegrini e provou ser  casa bem sucedida por 30 anos, com 2,500 lugares e incluía  galeria separada, reservada apenas para mulheres.
5. Teatro Bolshoi, de MoscouTeatro Bolshoi, de Moscou
Foi desenhado pelo arquiteto Joseph Bové (Osip Ivanovich Bové) para abrigar espetáculos de ópera e balé. É sede da Estatal de Coreografia de Moscou, também conhecida como  de Balé BolshoiCompanhia de Balé Bolshoi ou simplesmente Balé Bolshoi, sendo  das mais antigas e prestigiosas companhias de dança do mundo.
6.   , de LondresRoyal Opera House, em Londres
   é  casa de ópera e principal casa de espetáculos no distrito de Covent , em Londres,  das mais importantes do mundo. O edifício maior, comumente chamado apenas de Covent , é a sede da  , do  Ballet e da orquestra da ópera Real.
O edifício atual é o terceiro teatro erguido no . A fachada, o foyer e o auditório datam de 1858, mas quase todos os outros elementos do atual complexo datam de  extensa reconstrução efetuada nos anos 90 do século XX. O    comporta 2.268 pessoas e possui quatro fileiras de  e balcões, e a galeria do anfiteatro. O proscênio possui 12,20 m de largura e 14,80 m de altura.
7. Metropolitan   (  Center), em Nova YorkMetropolitan Opera House (Lincoln Center), em Nova York
O Metropolitan  é a maior organização clássica dos Estados Unidos e apresenta anualmente 220  de ópera. A cada da companhia é o Metropolitan  , que é considero o melhor palco de óperas em todo o mundo e sendo quase o maior do mundo. O Met, como é normalmente chamado, é  das doze organizações residentes do Centro de  Artísticas Center.
O Met apresenta aproximadamente 27 óperas diferentes por ano, em  temporada que vai do fim de setembro até o começo de maio. As óperas são apresentadas em um repertório rotatico, com sete  de quatro diferentes trabalhos por semana. As são apresentadas todas as noites, de segunda a sábado e com  matinê ao sábado. Muitas novas óperas são apresentadas por temporadas.
8. Teatro Real, MadridTeatro Real, Madrid
Após trinta e dois anos de planejamento e construção,  Ordem Real decretou, em 7 de Maio de 1850, a construção imediata do Teatro do Oriente, e a construção foi completa cinco meses depois. A casa, localizada em frente ao Palácio Real, a casa oficial da Realeza, foi finalmente inaugurado em 19 de Novembro de 1850, com a  de La , de Gaetano Donizetti. Em 1863, Giuseppe Verdi visitou o teatro, com a première espanhola de La Forza del Destino. Em 1925, os Balés Russos de Sergei Diaghilev apresentaram-se no teatro, com a presença de Vaslav Nijinsky e Igor Stravinsky
9. Ópera Estatal de Viena (Wiener Staatsoper), VienaÓpera Estatal de Viena (Wiener Staatsoper), Viena
O prédio foi o primeiro grande edifício no Wiener Ringstraße, construído graças ao Fundo de Expansão da Cidade. Começou a ser construído em 1861 e estava finalizado em 1869, seguindo os planos dos arquitetos August Sicard von Sicardsburg e Eduard  der Nüll. Foi feito num estilo Neo-Renascentista. Foi a primeira construção com finalidade operística em Viena.
Entretanto, o prédio não foi muito popular ao público. Não parece tão grande quanto o Heinrischshof,  residência privada (que foi destruída na época da Segunda Guerra Mundial)
Foi inaugurado em 25 de Maio de 1869 com a ópera Don Giovanni de Mozart.
10. Teatro la Fenice, de VenezaTeatro la Fenice, de Veneza
Teatro La Fenice (em português “A fênix”) é o principal teatro lírico de Veneza, nordeste da Itália. Destruído várias vezes e reedificado, é sede de  importante temporada operística e do  internacional de música contemporânea.
Construído rapidamente em pouco mais de um ano, foi inaugurado em 16 de maio de 1792 com a ópera de Giovanni Paisiello I giochi di Agrigento.
Foi destruído em 13 de dezembro de 1836 por um incêndio, mas foi reconstruído logo em seguida, repetido o projeto original. Cem anos se passaram e em 1937 foi restaurado por Eugenio Miozzi.
Com informações da Wikipedia