quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Fazendo História"

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Bela reflexão sobre o ensino e o sucesso



Lionel Fischer



"Um grupo de alunos do equivalente ao nosso ensino médio é estimulado, pelo diretor da escola, a prosseguir numa preparação especial, com o objetivo de ingressarem em Oxford ou Cambridge. Um novo professor de História é contratado com esse objetivo, mas sua influência esbarra na verdadeira cumplicidade que os estudantes têm com outro mestre naquela matéria, mais velho e experiente, cujos métodos de ensino parecem excessivamente heterodoxos aos olhos da direção do estabelecimento. Cria-se a partir daí uma relação entre os dois docentes, em meio às turbulências das vidas pessoais tanto de professores quanto de alunos, que evolui para uma admiração mútua apesar das divergências metodológicas".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo de "Fazendo História", do dramaturgo inglês Alan Bennett,
Em cartaz no Teatro Eva Herz, a montagem leva a assinatura de Gláucia Rodrigues, estando o elenco formado por Xando Graça (Hector), Mouhamed Harfouch (Irwin), Nedira Campos (Doroty) e Edmundo Lippi (diretor), equipe de professores. E os alunos André Arteche (Scripps), Renato Góes (Dakin), Hugo Kerth (Posner), Helder Agostinni (Locwood), Rafael Canedo (Timms), Yuri Ribeiro (Rudge), Ricardo Kennup (Crowther) e Guilherme Ferraz (Akthar).

Fartamente premiada tanto em Londres quanto em Nova York, "Fazendo História" evidencia, dentre seus muitos méritos, dois que me parecem essenciais: a capacidade do autor de discutir, de forma bem humorada e crítica, a metodologia de ensino - muito parecida, em sua essência, em todos os países capitalistas; e a partir deste questionamento esmiuçar, com extrema ternura e notável capacidade de observação, todos os conflitos humanos decorrentes dessa exasperante obsessão pelo sucesso, aqui centrado na possibilidade de os alunos cursarem universidades de elite.

Bem estruturado, contendo ótimos personagens e diálogos magníficos, "Fazendo História" recebeu esplêndida versão cênica da atriz Gláucia Rodrigues, em seu primeiro trabalho como diretora. Impondo à cena uma dinâmica despojada e austera, explorando com sensibilidade todos os climas emocionais em jogo, a encenadora possui o mérito suplementar de haver extraído irretocáveis atuações do numeroso elenco.

Sem exceção, todos os intérpretes valorizam ao máximo os maravilhosos personagens criados por Alan Bennett. E ainda que Xando Graça e Mouhamed Harfouch tenham um destaque maior na trama em função de interpretarem os protagonistas, nem por isso o brilho de suas performances minimiza as de seus colegas de cena. Assim, a todos parabenizo com o mesmo entusiasmo e a todos agradeço a maravilhosa noite que me proporcionaram.

Na equipe técnica, considero irrepreensíveis as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral, sem dúvida uma das mais significativas da atual temporada - José Henrique Moreira (tradução e adaptação), José Dias (cenografia), Ney Madeira (figurinos), Rogério Wiltgen (iluminação) e Edvan Moraes (direção musical).

FAZENDO HISTÓRIA - Texto de Alan Bennett. Direção de Gláucia Rodrigues. Com Xando Graça, Mouhamed Harfouch e grande elenco. Teatro Eva Herz. Quarta a sábado, 19h.

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