terça-feira, 3 de junho de 2014

Teatro/CRÍTICA

"Samba Futebol Clube"

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Gol de placa no CCBB



Lionel Fischer



Em cena, oito jogadores/torcedores. Eles cantam 42 músicas, assinadas por mestres como Pixinguinha, Francis Hime, Braguinha, Herivelto Martins e João Bosco, dentre muitos outros; dizem 12 textos de não menos renomados mestres da escrita, como Paulo Mendes Campos, José Lins do Rego, Nelson Rodrigues, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar e Armando Nogueira. 

E a permanente mescla de quem joga e quem assiste, da música e da palavra, tudo isso temperado por deliciosas e criativas coreografias, só poderia gerar um dos mais brilhantes musicais já exibidos no Rio de Janeiro, que merece ser prestigiado de forma incondicional mesmo por aqueles não muito chegados ao violento esporte bretão - não sei quem cunhou esta expressão, mas garanto que ela existe.

Com roteiro e direção assinados por Gustavo Gasparani, "Samba Futebol Clube" está em cartaz no Teatro II do CCBB. No elenco, Alan Rocha, Cristiano Gualda, Daniel Carneiro, Gabriel Manita, Jonas Hammar, Luiz Nicolau, Pedro Lima e Rodrigo Lima, também responsáveis pela execução de vários instrumentos.

Ao reler o que acabo de escrever, constato que minha opinião sobre o espetáculo já está expressa no segundo parágrafo, quando normalmente vem mais adiante. Mas sendo verdadeira a máxima de que a ordem dos fatores não altera o produto, é com enorme alegria e emoção que retomo o que na verdade não estava concluído.

Um dos fatores mais determinantes para o sucesso absoluto do presente espetáculo diz respeito à já mencionada estrutura narrativa.
E não apenas pela mescla de textos e canções, pois isto não constitui nenhuma novidade. O grande acerto deve-se à unidade entre as palavras e canções, que chegam até a plateia como se constituíssem um corpo indissociável. E cabe também mencionar a permanente imprevisibilidade do espetáculo. 

Muitas vezes esperamos que o canto predomine, e é a dança que se impõe. E quando gargalhadas sugerem que jamais serão interrompidas, eis que um súbito silêncio conduz a um clima oposto, às vezes impregnado de nostalgia, saudade ou salutar indignação - este último sentimento aflora quando a montagem menciona a Copa de 70, quando a gloriosa conquista fez com que muitos se esquecessem de que o país vivia sua mais violenta e abjeta ditadura.

Mas é claro que a Gustavo Gasparani não devem ser creditados todos os méritos. Se seu roteiro é brilhante e não menos brilhante sua direção, as parcerias estabelecidas são também fundamentais. A começar pelos atores, todos eles absolutamente impecáveis nos muitos personagens que interpretam, na forma como cantam, executam os instrumentos e dançam a esplêndida e diversificada coreografia criada por Renato Vieira, também responsável por uma direção de movimento que confere à cena uma incrível precisão, valorizando de forma notável tanto as passagens mais dramáticas quanto aquelas em que o humor predomina. Não resta dúvida de que Vieira, neste trabalho, contou com as bênçãos de todos os Deuses da Dança e do Teatro.

No complemento da ficha técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as deslumbrantes contribuições de todos os profissionais envolvidos neste comovente, divertido e mágico musical - Nando Duarte (direção musical), Marcelo Lipiani (cenografia), Marcelo Olinto (figurinos), Paulo Cesar Medeiros (iluminação), Maurício Detoni (preparação e arranjos vocais), Thiago Stauffer (cenografia digital), João Pimentel (pesquisa de textos), Alfredo Del Penho (pesquisa musical) e Beto Carramanhos (visagismo) - se me escapou algum nome, desde já me desculpo.

SAMBA FUTEBOL CLUBE - Roteiro e direção de Gustavo Gasparani. Com Alan Rocha, Cristiano Gualda, Daniel Carneiro, Gabriel Manita, Jonas Hammar, Luiz Nicolau, Rodrigo Lima e Pedro Lima. Teatro II do CCBB. Quinta a segunda, 19h30.

       



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