quinta-feira, 27 de junho de 2013

Teatro/CRÍTICA


" O patrão cordial"


..........................................................
Entre a cordialidade e a tirania



Lionel Fischer



"A peça é uma comédia sobre a cordialidade brasileira, nos moldes da tradição clássica do patrão e do empregado. Inspirada em O senhor Puntila  e seu criado Matti (peça de Beltolt Brecht) e Raízes do Brasil (estudo teórico de Sérgio Buarque de Holanda), o texto mostra as oscilações de comportamento de um fazendeiro do Vale do Paraíba, no trato com seu motorista, sua filha e outras personagens do mundo do trabalho. Cordial e fraterno quando bêbado, o protagonista Cornélio é impiedoso e distante quando sóbrio".

Extraído (e levemente editado) do release que me foi enviado, o trecho acima sintetiza o enredo de "O patrão cordial", que acaba de entrar em cartaz no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil. Espetáculo do grupo paulista Cia. do Latão, a montagem tem encenação e dramaturgia assinadas por Sérgio de Carvalho. No elenco, Adriana Mendonça, Carlos Escher, Helena Albergaria, Ney Piacentini, Renan Rovida, Ricardo Monastero, Rogério Bandeira e Rony Koren, que dividem a cena com os músicos Alessandro Ferreira e Martin Eikmeier.

Como se sabe, os detentores do poder agem sempre de acordo com suas conveniências e normalmente não cabe aos demais outra opção a não ser a de acatar as ordens que recebem, sejam elas justas ou não - mas toda regra tem exceção, e a maior prova disto é o que está acontecendo no momento no país.

Mas no texto em questão, e ainda que existam passagens em que os personagens questionem as atitudes do patrão, a vontade dele acaba sempre prevalecendo. O aspecto curioso, como já mencionado, é que Cornélio torna-se cordial e fraterno quando bêbado. Sendo a bebida um elemento liberador daquilo que em geral se procura ocultar, é possível que o texto tente nos mostrar que existe no protagonista um resquício de humanidade. No entanto, é sua sobriedade que impera, para desgraça dos que dele dependem.

Contendo ótimos personagens, diálogos fluentes e passagens que alternam humor e dramaticidade, "O patrão cordial" recebeu segura direção de Sérgio de Carvalho. Optando por uma dinâmica cênica despojada, mas nem por isso isenta de expressividade, o diretor exibe o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações de todo o elenco, que valoriza com vigor e criatividade os muitos papéis que representam.

Na equipe técnica, são de excelente nível a direção musical e composições de Martin Eikmeier (executadas com total competência por Meier e Alessandro Ferreira, e muito bem cantadas pelo elenco), a cenografia e figurinos de Cassio Brasil e a iluminação de Melissa Guimarães.

O PATRÃO CORDIAL - Encenação e dramaturgia de Sérgio de Carvalho. Com a Cia. do Latão. Teatro III do CCBB. Quarta a domingo, 19h.

Nenhum comentário:

Postar um comentário