sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Teatro/CRÍTICA

"O Homem, a Besta e a Virtude"

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Pirandello em ótima versão


Lionel Fischer


"A peça conta a história da Senhora Perella, mulher de um capitão de navio, que está sempre viajando. Há muito o casal não tem relações sexuais. Perella tem um caso com o professor do filho. Na véspera de uma esporádica visita do Capitão, ela conta ao Professor que está grávida. A partir daí, os dois amantes se desdobram em um plano maluco para fazer com que o Capitão tenha relações sexuais com a esposa e pense que o filho que ela espera é dele, pois em sua próxima visita a mulher já estará com a barriga muito grande".

Extraído do release que me foi enviado, o trecho acima resume o enredo desta peça do dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867-1936), só encenada no Brasil em 1962 pelo Teatro dos Sete (Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Sérgio Britto e Gianni Ratto). Em cartaz no Teatro dos Quatro, a montagem da Cia. Olhar Imaginário, de São Paulo, chega à cena com concepção de Débora Duboc, direção de Marcelo Lazzaratto e elenco formado por  Débora Duboc, Gabriel Miziara, Fernando Fecchio e Thiago Adorno.

Autor dramático e novelista, uma das grandes figuras do teatro moderno, herdeiro do teatro analítico de Ibsen, precursor do teatro existencialista e do chamado Teatro do Absurdo, Pirandello deixou uma obra vasta e diversificicada, quase toda ela girando em torno dos mesmos temas, dentre eles a impossibilidade de se escapar ao própriio eu, o problema da identidade e da aparência.

Embora esta não seja uma de suas obras mais conhecidas e encenadas, ainda assim é possível perceber que o autor investe contra a hipocrisia e a moral burguesas - temas que também muito o interessavam. E o faz num tom propositadamente farsesco, com pitadas da commedia del'arte, sem excluir aspectos inerentes à  bufonaria. 

E o grande mérito da direção de Marcelo Lazzaratto é justamente o de investir corajosamente na farsa, já que o material dramatúrgico não se prestaria, digamos, a uma materialização cênica mais séria. Isto não significa, bem entendido, uma busca desenfreada pelo riso fácil, pois se este fosse o objetivo não teríamos como usufruir, como ocorre, os principais conteúdos propostos pelo autor.

Valendo-se de marcas criativas, diversificadas e de notável precisão rítmica, o encenador exibe o mérito suplementar de haver extraído ótimas atuações de todo elenco, que se desdobra com exuberante brilhantismo em muitos personagens. Como já disse dezenas de vezes, este país pode carecer de tudo, menos de grandes intérpretes.
E é o que pode ser constatado nesta divertida empreitada teatral.

Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo os trabalhos de Marcos Caruso (tradução), Chico Spinosa (direção de arte, cenário e figurinos), Marcelo Lazzaratto (iluminação) e Gustavo Kurlat e Ruben Feffer (música e direção musical).

O HOMEM, A BESTA E A VIRTUDE - Texto de Luigi Pirandello. Concepção de Débora Duboc. Direção de Marcelo Lazzaratto. Com Débora Duboc, Gabriel Miziara, Fernando Fechhio e Thiago Adorno.Teatro dos Quatro. Terças e quartas, 21h30.





quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Parte superior do formulário
Uma Flauta Mágica
Peter Brook/Mozart

·      TEATRO DULCINA – Rio de Janeiro
7, 8 e 9 de setembro – 20h
·      SESC PINHEIROS SP – 12 a 16 de setembro
·       FESTIVAL PORTO ALEGRE EM CENATEATRO BOURBON COUNTRY – 21 a 23 de setembro – 21h

A partir da Flauta Mágica de Wolfgang Amadeus Mozart
Livre adaptação de Peter Brook, Franck Krawczyk e Marie-Hélène Estienne
Poderíamos começar por dizer que Peter Brook adaptou “livremente” a ópera A Flauta Mágica de Mozart, mas isso seria uma redundância para quem, como ele, construiu uma obra absolutamente  livre, indiferente a modas e escolas.
Brook é um gigante porque ousou sempre trilhar o seu próprio caminho. No dicionário brookiano, “adaptar” pode ser um sinônimo de “reduzir”, e em Uma Flauta Mágica “reduzir” significa antes de tudo o mais recusar pesados e sedimentados conceitos de ópera.
Com Franck Krawczyk (músico que adaptou para piano a partitura de Mozart) e Marie-Hélène Estienne (colaboradora de longa data do encenador britânico, com quem condensou o libreto original de Emanuel Schikaneder), Peter Brook disse não à grandiloquência tão comum em encenações operísticas para restituir uma Flauta leve e efervescente, permitindo assim um acesso desimpedido à magia e à ternura da obra.
A crítica classificou o espetáculo como o caminho mais livre e depurado para a redução da ópera das suas habituais quatro horas para a hora e meia teatral sem que se perca nada dos seus aspectos mais singulares.
Brook opta por usar uma versão para piano, numa encenação que guarda as mais célebres  árias e não esquece a narrativa, utilizando-a nos diálogos, interpretados com sagacidade e humor. Uma montagem sem efeitos e grandes exposições, encenação sóbria,  despida de cenários. É o próprio teatro que se transforma em floresta, em palácio da rainha da Noite e na prisão dos dois amantes. Nele o diretor estabelece um espaço limpo e livre de simbolismos, criando uma obra tão surpreendente como a ópera onírica de Mozart.

Peter Brook, 86, é um dos mais reverenciados diretores de teatro da atualidade. Inglês, estudou na tradicional Universidade de Oxford, onde se interessou pelas artes cênicas. Despontou para o sucesso a partir de 1955, quando dirigiu Laurence Olivier em Titus Andronicus, de Shakespeare. Nos anos 1970, trocou a Inglaterra pela França, onde dirige o Théâtre des Bouffes du Nord.

Inédita na América Latina, Uma Flauta Mágica começará em setembro de 2011 sua grande turnê pelo Brasil, Argentina, México, Chile e Uruguai, cuja estreia será na cidade do Rio de Janeiro.

Uma Flauta Mágica é uma co-produção entre: C.I.C.T. / Théâtre des Bouffes du Nord, Festival d’Automne – Paris, Attiki Cultural Society – Atenas, Musikfest Bremen, Théâtre de Caen, MC2 – Grenoble, Barbican Centre – Londres, Grand Théâtre de Luxembourg, Piccolo Teatro di Milano, Lincoln Center Festival – Nova YORK.



Uma Flauta Mágica
Rio de Janeiro 2011

Datas                                                 7, 8 e 9 de setembro de 2011
Duração                                             aprox. 1 hora e 30 minutos
Idiomas                                              cantos em alemão e diálogos em francês, com    
                                                           projeção de legendas em português


Direção                                              Peter Brook
Iluminação                                         Philippe Vialatte
Piano (em alternância)                      Franck Krawczyk, Matan Porat
Elenco (em alternância) :
Tamino                                               Antonio Figueroa, Adrian Strooper
Pamina                                               Agnieszka Slawinska, Jeanne Zaepffel
Rainha da noite                                 Leïla Benhamza, Malia Bendi-Merad
Papagena                                           Betsabée Haas, Dima Bawab
Papageno                                           Virgile Frannais, Thomas Dolié
Sarastro                                             Patrick Bolleire, Luc Bertin-Hugault
Monostatos                                        Jean-Christophe Born, Raphaël Brémard
Atores                                                William Nadylam
                                                           Abdou Ouologuem
Contra-regra                                      Arthur Franc
Camareira                                         Alice François
Legendas                                            Pierre-Heli Monot
Administração de turnês                   Agnès Courtay
Gerente de produções e turnês         Marko Rankov

Consultor artístico, Christophe Capacci / Trabalho corporal, Marcello Magni / Mestre de canto, Véronique Dietschy / Magia, Célio Amino / Figurinista, Hélène Patarot, com o apoio da Oria Puppo
Entrevista com Peter Brook

O que o levou, doze anos depois de Don Giovanni, a voltar a Mozart, e atacar a Flauta Mágica?

Essa vontade já vem de muito, muito longe. Abandonei a ópera após vários anos de experiências em Covent Garden e no Metropolitan Opera de Nova YORK, sentindo um total ódio desta forma cristalizada – não apenas da “forma ópera”, mas também das “instituições ópera”, do “sistema ópera” que paralisa tudo... Pensei que era uma perda de energia: no teatro, fora da ópera, é possível ir muito além com a mesma energia – então por que desperdiçá-la com uma forma tão rígida? No final dos anos 1950, abandonei a ópera para sempre.
Vinte e cinco anos depois, quando Bernard Lefort (diretor da Ópera de Paris), veio me propor montar Da casa dos mortos no Théâtre des Bouffes du Nord, tive uma vontade súbita: disse-lhe que, ao invés da ópera de Janácek, eu ficaria imensamente feliz de fazer, em toda liberdade, Carmen. Porque eu pensava que era possível fazer algo completamente diferente, se tivesse a liberdade absoluta de controlar a totalidade das condições de encenação. Primeiro, o trabalho com os cantores –  pretendia fazer como no teatro, trabalhar com a mesma equipe durante um ano inteiro: trabalhar uma única obra durante um ano inteiro permitia desenvolvê-la muito mais. Depois, no que toca à partitura e ao libreto: meus parceiros, Marius Constant e Jean-Claude Carrière, e eu mesmo, devíamos poder ter a liberdade de mudá-los, organizá-los ao nosso bel-prazer: não modernizá-los só por modernizar, mas para despojá-los do acúmulo de todas essas convenções impostas pela forma, anos a fio. Terceiro ponto: colocar a música e os cantores, sem poço de orquestra, em uma relação direta com o público – para que a primeira relação, para o espectador, seja diretamente ligada à presença de personagens que se expressam pelo canto, apoiados pela orquestra. A última condição era que pudéssemos ter três meses de ensaio! Fiz tudo isso porque, para mim, a música de Bizet é uma música que nos toca em profundidade, de uma qualidade rara, e que só pode surgir na intimidade. No caso da Flauta Mágica, tinha a mesma convicção. Algumas semanas depois de começar a ensaiar Carmen, eu organizei uma sessão de trabalho, bem simples, no Théâtre des Bouffes du Nord, com uma pequena equipe de cantores e um pianista: neste espaço, fizemos improvisos – eles podiam deslocar-se livremente, até dois passos da primeira fila – em certas partes da Flauta. Foi emocionante. Criou-se uma tal relação de intimidade entre o canto e a música, que virava outra obra.

Anunciei várias vezes que eu ia apresentar a Flauta, era nosso maior projeto, junto com a Tragédia de Carmen e as Impressões de Pelleas. Enquanto isso veio a proposta de outra ópera, da qual também gosto muito, Don Giovanni. Como era a primeira temporada de Stéphane Lissner em Aix-en-Provence, ele queria quebrar todas as convenções e as barreiras, então pudemos impor condições idênticas. Tanto que, entre a estréia e a reprise, um ano mais tarde, a equipe – cantores, orquestra, regente – permaneceu a mesma, e fizemos uma longa turnê. Daniel Harding regia toda noite, ensaiávamos constantemente para nos adaptar a espaços diferentes, e o trabalho coletivo dos cantores ficava cada dia melhor: no fim, tinham se tornado um verdadeiro conjunto, o que seria impossível conseguir nas casas de ópera tradicionais, onde se ensaia durante duas semanas para fazer apenas cinco apresentações. Minha vontade de montar a Flauta corresponde portanto à preocupação de estar cada vez mais próximo de Mozart, segundo nossas convenções, nossa atitude, no Théâtre des Bouffes du Nord.

Como pensa trabalhar a adaptação do libreto de Schikaneder, e da música?

Livremente! Será assinada por três pessoas: o compositor Franck Krawczyk, Marie-Hélène Estienne e eu. Com Franck Krawczyk, vamos tentar fazer algo « mozartiano » no sentido do próprio Mozart. Ele dizia sempre que onde há profundidade estão a leveza e o improviso, e não hesitava em rescrever, mudar, transpor suas partituras, entregá-las a outra pessoa, voltar a trabalhá-las... Ao mesmo tempo que agia desta forma, tocava à pureza, na qual se encontrava esta profundidade. Eu o senti em Don Giovanni : ser acadêmico com estas obras me parece ser contrário à própria natureza da arte mozartiana.
Eu vi, no decorrer desses últimos trinta anos, muitas encenações da Flauta Mágica. Pude constatar que o primeiro embaraço, para o diretor e o cenógrafo, é toda essa imaginária que eu considero imponente demais: um pouco como no caso de Carmen, a imagem que projetamos e esperamos pesa muito sobre o resto. A idéia é conseguir que os cantores – são jovens cantores– evoluam de maneira natural, viva e querida, no desenrolar da intriga, sem impor projeções, construções, vídeos ou cenários rotativos... Começaremos portanto a trabalhar sem nenhum elemento de cenário, mas a partir da música, perguntando como podemos fazê-la sentir, sem o peso, sem o lado pesado e solene de uma grande ópera. Abordando-a com um espírito lúdico. Mozart reinventa-se a cada instante, e é seguindo essa direção, profundamente respeitosa do essencial, que vamos trabalhar. Seguindo a intuição que, em Mozart, não se trata de esconder ou modernizar, mas fazer aparecer...
Entrevistado por David Sanson

Biografias
Peter Brook
Peter Brook nasceu em Londres, em 1925. Ao longo de sua carreira, distinguiu-se em vários gêneros: drama, ópera, cinema e escrita.
Dirigiu muitas obras de Shakespeare para o Royal Shakespeare Company, como Amor Perdido (1946), Medida por Medida (1950), Titus Andronicus (1955), Rei Lear (1962), Marat / Sade (1964), O Sonho de uma Noite de Verão (1970) e Antônio e Cleópatra (1978).
Em Paris, Peter Brook fundou em 1971 o Centro Internacional de Pesquisa Teatral (CIRT), que se torna, quando da abertura do Bouffes du Nord, o Centro Internacional de Criações Teatrais (CICT).
Suas produções se destacam por seus aspectos iconoclastas e sua estatura internacional: Timão de Atenas (1974), Os Iks (1975), Ubu no Bouffes (1977), A Conferência dos Pássaros (1979), O Osso (1979), A Cerejeira (1989), O Mahabharata (1985), Woza Albert! (1989), A Tempestade (1990), O Homem Que (1993), Quem está aí ?(1995), Os Dias Lindos (1995), Sou um Fenômeno (1998), O Terno (1999), A Tragédia de Hamlet (2000), Far Away (2002), A Morte de Krishna (2002), Tua mão na minha (2003), Tierno Bokar (2004), O Grande Inquisidor (2005), Sizwe Banzi está morto (2006) e Fragmentos de Samuel Beckett (2007).
Dirigiu várias óperas: A Bohemia (1948), Boris Godunov (1948), Os Olimpos (1949), Salomé (1949) e As Bodas de Fígaro (1949) no Covent Garden em Londres, Fausto (1953), Eugene Onegin (1957 ) no Metropolitan de Nova York, A Tragédia de Carmen (1981) e Impressões de Pelleas (1992), no Théâtre des Bouffes du Nord e Don Giovanni (1998) para o Festival d'Aix-en-Provence.
Seus principais livros são O Teatro e seu Espaço (1968), O Ponto de Mudança (1987) e O Diabo é o Aborrecimento (1991).

Franck Krawczyk
Franck Krawczyk estudou piano, análise e escrita clássicos em Paris e composição em Lyon (França), onde é atualmente professor de música de câmera (CNSMD).
Foi descoberto muito cedo pelo Festival d’Automne em Paris, escreveu muitas obras para piano, violoncelo, quartetos de cordas, conjuntos e corais de câmara. Recebeu em 2000 os prêmios Hervé Dugardin e da SACEM por sua criação Ruines para orquestra.
Krawczyk desenvolveu também novas formas de criação musical para o teatro (Rio ao ver-me tão bela a este espelho, com J.Brochen), para leitores (Os limbos, Ausência, com E. Ostrovski), para vídeo (Private A Joke avec F. Salès) e para a dança (Purgatorio-In Visione, com E. Greco e P.C. Scholten).
A pedido de Peter Brook, concebeu e interpretou em 2009 um acompanhamento musical para  Sonetos de Shakespeare (Love is my sin). Essa colaboração, somada a de Marie-Hélène Estienne, se manteve em “Uma Flauta Mágica” (2010).
Sua última obra maior, Polvere para violoncelo solo, conjunto instrumental e coral, foi criada em 2010 no Grand Palais (Monumenta-Christian Boltanski), depois retomada em Nova YORK, Milão e Bologna. Atualmente escreve seu terceiro quarteto de cordas.

Marie-Hélène Estienne
Em 1974, Maria-Hélène trabalhou com Peter Brook no elenco de Timão de Atenas. Em 1977, integrou o Centro Internacional de Criações Teatrais (CICT, França) para a criação de Ubu no Bouffes (1977).
Tornou-se assistente de Peter Brook em A tragédia de Carmen (1981), O Mahabharata (1985), colaborou na encenação de Tempestade (1990), Impressões de Pelleas (1992), Woza Albert (1989), A Tragédia de Hamlet (2000), foi co-autora com Brook de O Homem Que (1993) e de Sou um Fenômeno (1993). Marie-Hélène adaptou para a língua francesa as obras O Terno (1999) a partir de Can Themba, e Sizwe Banzi está morto de Athol Fugard John Kani e Winston Ntshona (2006). Em 2003, fez uma adaptação para o teatro, em francês e inglês, do Grande Inquisidor, a partir dos Irmãos Karalmazov de Dostoievski.
Marie-Hélène assinou junto com Peter Brook a encenação de Fragmentos (2007), cinco peças curtas de Beckett, e adaptou livremente com Franck Krawscyk e Peter Brook Uma Flauta Mágica, a partir de Mozart e Shikanader.

Serviço
Teatro Dulcina, Centro – Rio de Janeiro
Quarta, quinta e sexta, 7/8/9 de setembro, às 20h
Ingresso inteiro: R$ 10
Meia entrada: R$ 5
Venda de ingressos a partir de 30/08, apenas na bilheteria do teatro.

Patrocínio: Funarte, Petrobras, Prefeitura do Rio e Secretaria Municipal de Cultura
Apoio: Institut Français, Consulado Geral da França no Rio de Janeiro
Produção: Zadig!

Teatro Dulcina
Rua Alcindo Guanabara, 17 – Centro
(Metro Estação Cinelânida)
Rio de Janeiro RJ – Tel. (21) 2240-4879

Responsável pela comunicação na companhia C.I.C.T.-Théâtre des Bouffes du Nord:
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EM SÃO PAULO:
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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Teatro/CRÍTICA

"Por pouco"

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Relevância e prolixidade


Lionel Fischer


Dois homens dividem o mesmo quarto num hospital, ambos portadores de câncer, um deles com previsão de sobrevida de uma semana e o outro de quinze dias. Após receberem esse diagnóstico do médico que os atende, resolvem fugir do hospital com o objetivo de, quem sabe, usufruir de forma menos melancólica o pouco tempo que lhes resta - ou ainda tentar encontrar algum sentido para a existência que levaram.

Eis, em resumo, o enredo de "Por pouco", em cartaz no Teatro Poeira. De autoria do dramaturgo francês Samuel Benchetrit, o texto chega à cena com direção de Ary Coslov e elenco formado por Ilvio Amaral, Maurício Canguçu, Wolney Oliveira e Flávia Fernandes.

Do ponto de vista estritamente realista, seria pouco crível aceitar o fato de que dois senhores portadores de uma doença terminal reúnam forças para fugir do hospital (ambos de pijama e um deles arrastando aquele dispositivo que injeta soro) e empreender uma jornada que os coloca em contato com diversos personagens, em diversificados contextos.

Assim, só é possível encarar o texto - uma espécie de comédia dramática - se a ele atribuirmos conotações do chamado Teatro do Absurdo. Isso poderia justificar muitas das passagens exibidas, que, inclusive, poderiam perfeitamente não ter acontecido, serem meras projeções fantasiosas dos protagonistas.

Ainda assim, e mesmo levando-se em conta a relevância de algumas passagens, o texto peca por seu excesso, manifesto sobretudo na extensão de algumas cenas, que poderiam perfeitamente ter sido reduzidas em prol de um ritmo mais dinâmico para o espetáculo.

Este leva a assinatura de Ary Coslov, que, além de excelente intérprete, é também um ótimo diretor de atores. E seu presente trabalho encontra maior validade justamente na performance do elenco, que, sem ser brilhante, ainda assim atende às características essenciais dos personagens. Quanto à dinâmica cênica, esta pode ser considerada apenas correta.

Na equipe técnica, o grande destaque vai para a tradução de Jacqueline Laurence, sendo também de excelente nível a trilha sonora criada pelo diretor. Kika Lopes (figurinos), Marcos Flaksman (cenografia) e Pedro Pederneiras (iluminação) realizam trabalhos em sintonia com o contexto.

POR POUCO - Texto de Samuel Benchetrit. Direção de Ary Coslov. Com Ilvio Amaral, Maurício Canguçu, Wolney Oliveira e Flávia Fernandes. Teatro Poeira. Quinta a sábado, 21h. Domingo, 19h.
Teatro/CRÍTICA

"A confissão"

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Acerto de contas


Lionel Fischer


"A lembrança de uma antiga namorada revela novidades quando dois amigos se reencontram após tantos anos de afastamento e resolvem esclarecer um segredo bem guardado, um fato que parecia esquecido mas que ainda pode transformar suas vidas num perigoso acerto de contas".

Este fragmento, extraído do programa oferecido ao público, resume o tema central de "A confissão", de autoria do norte-americano Stephen Belber, em cartaz na sala Tônia Carrero do Teatro do Leblon. Walter Lima Jr. assina a tradução e direção do espetáculo, que tem elenco formado por Ângelo Paes Leme, Silvio Guindane e Isabel Guéron.

Quanto ao "segredo bem guardado", mencionado no parágrafo inicial, é evidente que não o revelarei, pois isso privaria o público da surpresa inicial que dispara embates de natureza ética, discussões em torno da noção de culpa e, numa certa medida, como um mesmo fato pode ser vivido ou interpretado de maneiras completamente díspares.

Tendo como protagonistas dois homens na faixa dos 30 anos, um deles vivendo do tráfico e o outro cineasta em início de carreira, ambos foram colegas de escola e não se encontram há dez anos. E logo após aquelas típicas e exageradas efusões que marcam todo reencontro, surge a tal questão, envolvendo uma jovem que, tendo namorado o primeiro, logo em seguida teve um relacionamento com o outro. Finalmente, entra em cena a "pivô" que motiva a trama, cujo desfecho não deixa de ser surpreendente.

Bem escrito, contendo personagens bem estruturados e trabalhando temas pertinentes, ainda assim o texto não chega a empolgar, talvez em face de sua construção excessivamente correta, típica do teatro realista norte-americano. Entretanto, cumpre ressaltar que a peça é assistida com interesse pelo público, em especial nos momentos de maior tensão.

Quanto à montagem, Walter Lima Jr. conduz a cena com segurança, conseguindo extrair eficientes interpretações de todo o elenco - e aqui cabe ressaltar que isso é o que mais importa neste tipo de dramaturgia, que dispensa montagens que priorizem inúteis mirabolâncias formais. Ângelo Paes Leme, Silvio Guindane e Isabel Guéron extraem o que é possível de seus personagens, estabelecendo uma contracena de grande intensidade.

Na equipe técnica, destaque especial para a ótima tradução do diretor, sendo corretos os trabalhos de Rafaela Prado (figurinos), Ronald Teixeira (cenografia) e Daniel Galván (iluminação).

A CONFISSÃO - Texto de Stephen Belber. Direção de Walter Lima Jr. Com Ângelo Paes Leme, Silvio Guindane e Isabel Guéron. Teatro do Leblon. Quinta a sábado, 21h30. Domingo, 20h.   


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Teatro/CRÍTICA

"Eu te amo"


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Quando as máscaras caem


Lionel Fischer


No início, dizem, era o Verbo. No presente caso, era imagem. Imagens e palavras que constituiam o filme "Eu te amo", de Arnaldo Jabor, lançado em 1981. Mais tarde, em 1988, Jabor converteu o filme em peça teatral. E agora ela está em cartaz na Sala Marília Pêra do Teatro do Leblon, curiosamente dirigida por dois cineastas, Rosane Svartman e Lírio Ferreira, estando o elenco formado por Alexandre Borges e Juliana Martins.

Tudo se passa numa produtora cinematográfica. Recém abandonado pela mulher, completamente falido, um cineasta de meia-idade recebe a visita de uma jovem garota de programa. E o que poderia se resumir a um breve encontro capaz de satisfazer as recíprocas necessidades - ele, de amenizar sua solidão; ela, de faturar uma grana - vai aos poucos se convertendo em uma espécie de jogo em que sucessivas máscaras vão caindo, assim revelando a verdadeira face dos dois personagens.

Quando digo "jogo" me refiro basicamente aos muitos estratagemas dos quais normalmente lançamos mão para nos proteger da opinião do outro. Ao interpretarmos "tipos", é como se nos tornássemos imunes a eventuais sofrimentos, já que nossa verdadeira natureza permaneceria oculta e, portanto, inatingível.

No entanto, em dadas circunstâncias, surge uma inesperada e desconcertante necessidade de entrega, uma urgência em revelar-se por inteiro, exibir todas as carências e fragilidades, correr todos os riscos, pois a farsa já não mais se sustenta. E é exatamente o que acontece neste brilhante texto de Arnaldo Jabor, pleno de humor e humanidade.

Sem entrar em maiores detalhes, já que isso privaria o espectador de muitas surpresas, me permito apenas dizer que o autor criou dois ótimos personagens, diálogos fluentes e um contexto que, embora quase sempre impregnado de uma atmosfera sexual, aborda temas da maior relevância, tais como frustrações, carências, rejeições e, em especial, o pavor que todos sentimos (ainda que dificilmente o admitamos) de não conseguirmos amar intensamente e sermos correspondidos em igual medida.

No tocante à encenação, Rosane Svartman e Lírio Ferreira impõem à cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico, criando marcas expressivas e ao mesmo tempo, através de belíssimos vídeos, enriquecer a montagem com seus predicados de ótimos cineastas.

Com relação ao elenco, tanto Alexandre Borges como Juliana Martins extraem o que de mais relevante possuem seus personagens, tanto nas passagens mais dramáticas quanto naquelas em que o humor predomina. E no que concerne aos muitos momentos em que os personagens se relacionam fisicamente, ambos se entregam por completo, renunciando a inadequados pudores, mas sem jamais descambar para a vulgaridade.

Sem dúvida, um visceral encontro entre um excelente e charmosíssimo ator e uma jovem e talentosa atriz cuja beleza e poder de sedução, para serem corretamente descritos, demandariam a utilização de palavras que, lamentavelmente, ainda não tive o privilégio de conhecer. Cabe também registrar a ótima participação em vídeo de Ana Markun, que interpreta a mulher que abandonou o cineasta.

Na equipe técnica, destaco com o mesmo entusiasmo as contribuições de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Rogério Emerson (iluminação), Fabiana Egrejas (cenografia), Márcia Tacsir (figurinos), Rose Gonçalves (preparação vocal), Márcia Rubin (consultoria de movimento), Ana Rios, Lírio Ferreira e Rosane Svartman (trilha musical), e os vídeos, que me parecem ser de autoria da dupla de diretores.

EU TE AMO - Texto de Arnaldo Jabor. Direção de Rosane Svartman e Lírio Ferreira. Com Alexandre Borges e Juliana Martins. Teatro do Leblon.Quinta a sábado, 21h. Domingo, 20h.  



   

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"O que eu devo ler?"

Lionel Fischer


          Essa pergunta me é feita com agradável constância por jovens estudantes de teatro. E minha resposta é sempre a mesma: "Lê tudo! Tem letra, você lê!" - ninguém jamais esboçou sequer um sorrizinho com esta gracinha, e com toda a razão, porque ela não tem nenhuma graça.

           Em seguida, vem a segunda pergunta: "Mas eu começo por onde?" E aí eu me abstenho, naturalmente, de responder "pela primeira página", pois correria sério risco de vida. Mas é claro que logo em seguida dou um monte de sugestões, sem necessariamente priorizar qualquer ordem cronológica.

           Então, atendendo a tantos pedidos, aí segue uma brevíssima relação de livros que certamente contribuirão para o angariar de imprescindíveis conhecimentos no tocante à arte teatral - não sei se todos ainda se encontram à venda, mas não custa tentar. E em outra ocasião sugiro outros, também importantíssimos - cumpre registrar que ficaram de fora desta relação incontáveis obras capitais, mas se fosse citar todas teria que me dedicar unicamente a esta tarefa durante meses, excluindo todas as demais que exerço.

A Arte do Ator - as primeiras seis lições - Richard Boleslavski (Perspectiva, 1992). Em seis lições, a concentração, a memória da emoção, a ação dramática, a caracterização, a observação e o ritmo.

A Construção da Personagem - Konstantin Stanislavski (Civilização Brasileira, 1996). Da caracterização à dicção, Stanislavski mostra como construir a personagem.

Dramaturgia - Construção da Personagem - Renata Pallottini (Ática, 1986). A construção da personagem, das correntes clássicas às propostas de Bertolt Brecht.

Estudos sobre Teatro - Bertolt Brecht (Nova Fronteira, 1978). O teatro e sua natureza na ótica de um dos maiores dramaturgos e teóricos do século XX.

A História do Teatro Brasileiro - Edwaldo Cafezeiro e Carmen Gadelha (UFRJ-Funarte, 1996). Um panorama do teatro no país, do teatro barroco ao moderno movimento das artes cênicas.

Introdução à Dramaturgia - Renata Pallottini (Ática, 1988). A dramaturgia, sua natureza e seus problemas na ótica de uma conhecida poeta e dramaturga.

A Linguagem da Encenação Teatral - J.J. Roubine (Zahar, 1982). A natureza da atividade teatral, como se manifesta e chega ao público.

Mestres do Teatro - John Gassner (Perspectiva, 1991). Estudo crítico sobre o drama teatral, de seus primórdios à dramaturgia contemporânea.

O que é Teatro - Fernando Peixoto (Brasiliense, 1980). Um dos mais festejados diretores brasileiros explica o que é a atividade teatral.

A Preparação do Ator - Konstantin Stanislavski (Civilização Brasileira, 1996). Ensinamentos práticos do método de interpretação do diretor e teórico russo.

Stanislavski e o Teatro de Arte de Moscou - J. Guinsburg (Perspectiva, 1985). Um estudo sobre as idéias e os métodos propostos pelo diretor e teórico russo.

TBC: Crônica de um Sonho - Alberto Guzik (Perspectiva, 1986). A história do Teatro Brasileiro de Comédia e sua contribuição para o moderno teatro brasileiro.

Teatro Brasileiro - Um Panorama do Século XX - Clóvis Levi (Funarte, 1997). História ilustrada do movimento teatral brasileiro desde o início do século XX.

O Teatro Brasileiro Moderno: 1930-1980 - Décio de Almeida Prado (Perspectiva-Edusp, 1988). As raízes e o desenvolvimento do moderno teatro brasileiro.

Teatro e Política: Arena, Oficina e Opinião - Edélcio Mostaço (Proposta Secretaria de Estado de Cultura, 1982). História e objetivos de três grupos que representam a cultura de esquerda.

Teatro Moderno - Anatol Rosenfeld (Perspectiva, 1997). Ensaios sobre o desenvolvimento do teatro a partir da fase pré-romântica, chegando à contemporaneidade.

Teatro Oficina (1958-1982): Trajetória de uma Rebeldia Cultural - Fernando Peixoto (Brasiliense, 1982). História e propostas do grupo Oficina, um dos mais importantes do Brasil.

Ziembinski e o Teatro Brasileiro - Yan Michalski (Hucitec-Funarte, 1995). O trabalho do polonês Zbigniew Ziembinski, um dos responsáveis pelo surgimento do moderno teatro brasileiro.
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Os dados acima foram extraídos de Projeto Cena Aberta - Manual de capacitação do profissional de Artes Cênicas. Ministério do Trabalho. Ministério da Cultura. O livro foi editado em 1998.