segunda-feira, 23 de maio de 2011

Teatro/CRÍTICA


"Autopeças 2 - Peças de encaixar"

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Faltou encaixe


Lionel Fischer


"Comédia, thriller psicológico, fábula, humor ácido e drama são os elementos que compõem o espetáculo. Dirigido por Cesar Augusto e Susana Ribeiro, o projeto reúne seis peças incompletas que são 'encaixadas' durante a encenação. 'Autopeças' é o resultado de uma oficina de dramaturgia realizada pela Cia. dos Atores que buscou novos talentos nas diversas áreas que um espetáculo de teatro comporta. Entre os envolvidos estão atores, autores, diretores e técnicos".

O trecho acima, extraído do release que me foi enviado, resume uma proposta absolutamente válida, ainda que seu resultado seja um tanto confuso. Aliás, a confusão já começa no número de peças: no programa constam sete, no release, oito; em qual deles devo me basear?

Enfim, vamos aos textos - e aqui priorizo o aspecto quantitativo, temendo cometer uma imperdoável omissão: "Papo de mineiro" (Susana Nascimento e Raquel Alvarenga), "Tem um fantasma atrás de mim" (Suzana Nascimento), "Marcel e Marceau" (Diogo Liberano), "Tatu" (Monica Solon e Jaderson Fialho), "Primeiro eu" (João Rodrigo Ostrower), "Aquilo que fica" (Alexandre Rudáh), "Ponto de escuta" (Alexandre Pinheiro e José Caminha) e "BIZIU: Eu quase te amei de verdade" (José Caminha).

Em cartaz no Espaço Sesc, "Autopeças 2 - Peças de encaixar" tem direção assinada por Cesar Augusto e Susana Ribeiro, codireção de Diogo Liberano, Bel Garcia atua como dramaturg, estando o elenco formado por Ana Abbot, João Rodrigo Ostrower, Jonas Gadelha, Mariana Nunes, Susana Nascimento, Tracy Segal, Raquel Karro, Raquel Alvarenga, Eduardo Almeida, Átila Calache e Alex Pinheiro.

Como dito no segundo parágrafo, acho absolutamente válida a iniciativa da Cia. dos Atores de ministrar uma oficina de dramaturgia, posto que se trata de um dos melhores grupos cariocas, composto por excelentes profissionais com vasta experiência e  inúmeras e mais do que merecidas premiações. No entanto, e como também registrado no mencionado parágrafo, achei o resultado muito confuso. 

Como anunciado, as peças são incompletas, mas até aí nada demais, pois poderíamos encará-las como esboços de textos a serem posteriormente desenvolvidos. A questão crucial se resume ao tal "encaixe". Imaginei que, graças a um elaborado trabalho final de dramaturgia, a incompletude (acho que essa palavra não existe, mas serve ao que pretendo dizer) de cada texto seria, numa certa medida, prenchida pela incompletude do texto seguinte, e assim sucessivamente, o que acbaria conferindo ao todo uma certa unidade. Mas não foi essa a impressão que tive. No entanto, criar uma unidade talvez não tenha passado pela cabeça dos idealizadores do projeto. Enfim...

Seja como for, ao menos parte do material dramatúrgico evidencia qualidades e sua materialização cênica não deixa de exibir passagens muito criativas. Além disso, estamos diante de jovens profissionais de evidente talento que, numa próxima ocasião, tentarei avaliar a partir de bases mais sólidas.

No tocante à equipe técnica, Bia Junqueira assina uma cenografia despojada e criativa, a mesma criatividade presente na iluminação de Paulo César Medeiros, nos figurinos de Patrícia Muniz, na direção de movimento de Raquel Karro, na trilha sonora de Rodrigo Marçal e na programação visual de Radiográfico (uma empresa, ao que suponho, pois não consigo imaginar alguém que atenda por um nome como este).

AUTOPEÇAS 2 - PEÇAS DE ENCAIXAR - Textos de vários autores. Com Ana Abbot, João Rodrigo e grande elenco. Espaço Sesc. Quarta a sábado, 21h. Domingo, 19h30. 

3 comentários:

  1. "...a incompletude (acho que essa palavra não existe, mas serve ao que pretendo dizer) de cada texto seria, numa certa medida, prenchida pela incompletude do texto seguinte,..."

    a palavra imcompletude ja existe, e tem um sigificado bem interessante:

    "O teorema da incompletude de Gödel, às vezes também designado por teoremas da indecidibilidade, é o nome atribuído a dois resultados demonstrados por Kurt Gödel:

    Teorema 1: "Qualquer teoria axiomática recursivamente enumerável e capaz de expressar algumas verdades básicas de aritmética não pode ser, ao mesmo tempo, completa e consistente. Ou seja, sempre há em uma teoria consistente proposições verdadeiras que não podem ser demonstradas nem negadas."
    Teorema 2: "Uma teoria, recursivamente enumerável e capaz de expressar verdades básicas da aritmética e alguns enunciados da teoria da prova, pode provar sua própria consistência se, e somente se, for inconsistente."

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    1. Daniel amigo,

      ainda que com grande retardo, te agradeço os providenciais esclarecimentos.
      Abraços,
      Eu

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    2. Daniel amigo,

      ainda que com grande retardo, te agradeço os providenciais esclarecimentos.
      Abraços,
      Eu

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