sexta-feira, 25 de março de 2011

O pensamento e a linguagem
das crianças

Richard Courtney


PIAGET
Estágios de desenvolvimento

          Para Piaget, a criança percebe o mundo de maneira essencialmente diversa do adulto, e o faz diferentemente de acordo com seus estágio de desenvolvimento. Os estágios de desenvolvimento humano são vistos como o desdobramento gradual da habilidade do indivíduo em construir um modelo interno do mundo que o cerca, e engendrar manipulações desse modelo de modo a tirar conclusões sobre o passado e o futuro. Os estágios básicos de desenvolvimento de uma criança são:

I. Inteligência sensório-motora (0 - 2 anos)

          É a evolução das ações reflexas dos recém-nascidos para uma organização relativamente coerente de ações sensório-motoras. Caracteriza-se por um completo egocentrismo (o mundo é concebido exclusivamente a partir do ponto de vista da criança) e o aprendizado se faz por reação circular, a partir da repetição, com base em ensaio-e-erro. Da imitação simples, a criança passa a imitar os modelos complexos e a efetuar a imitação diferida - reproduzindo um modelo ausente com o auxílio da memória. Seu jogo desenvolve qualidades dramáticas, é freqüentemente ritualista e simbólico. E, apenas pela experimentação de suas próprias ações a criança pode, eventualmente, ver o objeto como algo à parte.

2. Pensamento pré-conceitual (2 - 4 1/2 anos)

           É a evolução da inteligência sensório-motora para uma manipulação mais interior, simbólica, da realidade. A criança é ainda egocêntrica, mas pode diferenciar o símbolo interior da realidade externa porque imagens são criadas quanto imita; isso leva a criança a compreender os signos (palavras). Dessa maneira, ela faz-de-conta, representando uma coisa por outra. Brinca de jogos de construção, desenhos, compreende letras e falas. A fala é muito importante neste estágio: ela pensa em voz alta para dizer a si mesma o que fazer, pois a fala e a ação estão ligadas. Seu pensamento encontra-se no estágio de pré-conceitos, que são controlados pela ação, imagísticos e concretos; assim, ela tem dificuldade em reconhecer uma identidade estável em meio a mudanças de contexto.

3. Pensamento intuitivo (4 1/2 - 7 anos)

          O pensamento encontra-se ainda vinculado à ação e à percepção, e a criança faz uso do raciocínio transdutivo - vai de particular a particular. Encontra dificuldade em distinguir os vários membros de uma classe como individualidades; portanto, as aparições de diferentes insetos em momentos diferentes são interpretados como reaparições do mesmo inseto; por exemplo: "Essa é a lesma".

4. Operações concretas (7 - 11 anos)

          As ações cognitivas representativas internas passam a ser agrupadas em sistemas: surgem as classificações, assim como o agrupamento de uma classe com outra, se desenvolve a seriação e a criança organiza relações assimétricas em um sistema. O conceito de número começa a existir: uma coleção de objetos parece ser equivalente. Os conceitos de tempo e espaço, assim como o mundo material, se desenvolvem: aos oito anos de idade, a criança pode coordenar relações de ordem temporal (antes/depois) com duração (longas/curtas extensões de tempo).

          Todos esses agrupamentos são dominados apenas em situações concretas; a criança trabalha indo do real ao possível, e deve superar as propriedades físicas dos objetos e eventos (massa, peso, comprimento, área, tempo etc.), uma por uma.

          A imitação se desenvolve: ocorre a imitação detalhada, com análise do modelo; a imitação é consciente; é refletiva - sendo usada apenas como auxílio para o preenchimento das necessidades inerentes à atividade da criança - e é assim controlada pela inteligência como um todo. O jogo simbólico declina e os jogos de regras se impõem.

5. Operações formais (11 + anos)

           Neste estágio, a criança rompe pela primeira vez com o real: pode trabalhar com hipóteses e busca espontaneamente as leis. Envolve-se com o pensamento propositivo: as entidades de pensamento são proposições e não realidade; as hipóteses são confirmadas ou negadas, e relacionam-se, então, com o mundo externo.

OBS: essas divisões não são necessariamente exatas segundo a idade, mas a seqüência é invariável. As pesquisas modernas demonstram que o progresso desenvolvimentista é o mesmo em muitas culturas, embora algumas crianças alcancem cada estágio tardiamente, enquanto outras atingem-no mais cedo.
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Extraído de Jogo, teatro e pensamento (Editora Perspectiva,1974)

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