quinta-feira, 30 de abril de 2009

Teatro/CRÍTICA

"Mau humor"

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Hilários destemperos de uma estressada


Lionel Fischer


Vinícius de Moraes julgava a beleza fundamental. Não concordo inteiramente com o poeta, mas em contrapartida ouso afirmar que a vida, levada sem humor, torna-se simplesmente intolerável. Ao mesmo tempo, tenho plena consciência de que eventuais estados de mau humor são inevitáveis.
No presente caso, porém, estamos diante de uma mulher completamente estressada e com um vastíssimo repertório de situações que a levam a ficar de mau humor. E é justamente sobre tal repertório que ela fala compulsivamente com a platéia, o que a impede de "começar o espetáculo" - trata-se, naturalmente, de um artifício teatral, pois o texto foi concebido visando que o espetáculo jamais comece.
Com texto e direção assinados por Lucília de Assis e interpretação a cargo de Carmen Frenzel, "Mau humor" está em cartaz no Teatro Municipal Café Pequeno.
Como já foi dito, a única personagem desfila um vastíssimo repertório de situações que a deixam fora de controle, a maioria comuns a todos nós - e aqui a autora Lucília de Assis revela um olhar agudo e pertinente sobre a ralidade, mas sempre extraindo delicioso humor dos ininterruptos enfurecimentos da personagem.
Mas esta não se torna sedutora - apesar de seus destemperos - apenas em função do que diz, mas também pela notável capacidade de Carmen Frenzel de se relacionar com a platéia, evidenciando extraordinária vocação para o improviso.
Na noite em que assistimos ao espetáculo, por exemplo, a atriz conseguiu "implicar" com toda a platéia e, não contente, inventou relações "constrangedoras" entre alguns dos espectadores, que a todas reagiram com extremo bom humor. E isso graças, como já foi dito, à fantástica capacidade da atriz de lidar com o inesperado, de aproveitar todas as brechas para criar piadas muito engraçadas sobre temas completamente díspares. Sem dúvida, Carmen Frenzel é uma excelente comediante, que ainda tem a seu favor ótimo domínio vocal e corporal, e um carisma que converte a platéia em cúmplice. Assim, recomendamos aos mau humorados de plantão uma ida urgente ao Café Pequeno.
Com relação à direção, Lucília de Assis cria marcas engraçadas e diversificadas, mas é óbvio que teve o bom senso de dar total liberdade à atriz para agir em função da receptividade do público. Alexandre Dacosta assina uma música correta, a mesma correção presente na iluminação de Tadeu Freire.

MAU HUMOR - Texto e direção de Lucília de Assis. Interpretação de Carmen Frenzel. Teatro Municipal Café Pequeno. Terças e quartas às 21h.

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