segunda-feira, 6 de abril de 2009

Perigosa mensagem

Eliana Helsinger


Fazer uma peça sobre o suicídio, escrita por Marx, traz alguns problemas: primeiro falar sobre o suicídio já é em si bastante delicado. Como os atores relatam, o índice é bastante alto. E estando o Brasil em nono lugar, então a peça deveria fazer um questionamento sobre uma decisão tão radical.
Como psicanalista, penso que quando levamos para o palco um tema como este, devemos lembrar que a platéia é constituída de diversas subjetividades e se só encenamos o suicídio como a única solução, estamos sem perceber passando uma mensagem que pode ser o aval que o outro precisa para levar a cabo “um ato de coragem”, como afirmam varias vezes na peça. Mais grave ainda é ter o aval de Marx quando, ao afirmar que “a sociedade é doente", ele nos induz a pensar que o gesto suicida tem muito menos a ver com ele em si do que como o social.
Marx é um pensador otimista que acreditava na REVOLUCÃO. Portanto, na ação ATIVA e não passiva. Por isso acho perigoso se pegar um texto escrito por ele sem situar o pensamento marxista: SUBVERSIVO, REVOLUCIONÁRIO etc. A peca é encenada no século XXI, aonde sabemos que o suicídio ocorre frequentemente nas classes médias alta e ricas e muito raramente na classe operária.
Seja como for, adorei o trabalho dos atores, o jogo de luzes etc. Porém, como trabalho com pacientes “suicidas”, penso que é fundamental abordar esse tema por várias vertentes. Freud, no seu texto “Mal Estar na Cultura”, se dirige a Marx como alguém que acreditava muito mais no ser humano do que ele. É isso.
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Eliana Helsinger é psicanalista

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